(G1/PE, 01/03/2016) Antes de estudo, médica notou ‘desolação’ de mães em hospital do Recife. Estudo começou informalmente na sala de espera do Oswaldo Cruz.
Cuidar de quem cuida. Esta é a linha de um estudo inédito realizado por pesquisadores do Hospital Oswaldo Cruz (Huoc), que fica no bairro de Santo Amaro, área central do Recife, sobre a saúde mental de mães de bebês com microcefalia. O projeto, realizado por médicos de várias áreas do hospital, foi submetido ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Pernambuco para aprovação na segunda-feira (29).
A pesquisa é coordenada pela psiquiatra do Huoc e pesquisadora Kátia Petribú, que desenvolveu a temática a partir da própria experiência nos corredores da unidade de saúde. “Eu trabalho há 21 anos no hospital e passo quase que diariamente pela pediatria. Eu nunca tinha visto tanta desolação como no caso das mães de bebês com microcefalia. Elas tinham um olhar de choque, perplexidade. Foi a partir deste comportamento que resolvi dar início ao estudo”, afirma a psiquiatra.
A metodologia de pesquisa já havia começado de maneira mais informal com conversas na sala de espera; cerca de 40 mães participaram desta primeira parte. O estudo vai ser dividido entre mães de bebês com microcefalia e mães de bebês sem a malformação, que nasceram no mesmo período, para fazer um quadro comparativo. A primeira parte da pesquisa vai estudar bebês com até 20 semanas e, nas seguintes, crianças de 1 ano a 1 ano e meio.
Em boletim divulgado pela Secretaria de Saúde nesta terça (1º), foram contabilizados 1.672 casos notificados de bebês com microcefalia em Pernambuco. Destes, 215 foram confirmados como tendo realmente a malformação através de exames de imagem.
“A gente precisa fazer algo por elas. Na maioria das vezes, só sabemos de caso de depressão pós-parto. Esses bebês, por exemplo, não se desenvolvem da mesma forma porque a mãe não dá o mesmo afeto, a mesma estimulação. Em casos de bebês com algum problema de saúde o risco do adoecimento mental dessas mães cresce inúmeras proporções. Se a mãe não estiver bem, logo, o bebê também não ficará”, pondera.
Nessa semana, de acordo com a médica, mães de bebês com microcefalia receberão atendimento psiquiátrico gratuito no ambulatório do hospital. Haverá também um grupo de psicoterapia duas vezes por semana na unidade de saúde. O Grupo de Ajuda à Criança Carente com Câncer (GAC) também deve treinar voluntárias para darem assistências a essas mães com orientações dentro do hospital.
Malu Veiga
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