Placenta é alvo do zika em todas as fases da gestação, aponta estudo

11 de março, 2016

(Folha de S. Paulo, 11/03/2016) Um estudo realizado por pesquisadores ligados ao Instituto Carlos Chagas, da Fiocruz Paraná, mostra que a placenta é o alvo preferencial do vírus da zika em todas as etapas da gestação. Já nos bebês, o foco principal é o cérebro.

As conclusões do estudo, realizado em parceria com a PUC-PR, ocorreram após análise de amostras de tecidos da placenta de cinco mulheres grávidas infectadas em diferentes fases da gestação e do cérebro de bebês que morreram horas após o parto.
Os casos analisados são de mães e bebês do Nordeste e Sul do país. Em um deles, foram analisadas amostras de uma grávida com sintomas e exames positivos para o vírus da zika no 8º mês da gestação e que deu à luz a um bebê saudável –apesar dos pesquisadores terem identificado a presença do vírus na placenta.

“Isso mostra que, independente do período da gestação, a placenta é um alvo”, relata a virologista Cláudia Nunes Duarte dos Santos, uma das autoras do estudo e também uma das primeiras a confirmar a circulação do vírus da zika no país.

Segundo Santos, o estudo traz novos indícios de que o risco para os bebês é maior nas primeiras etapas da gestação. A suspeita, assim, é que a “maturidade” da placenta ajudaria a evitar a contaminação do feto.

Exames apontaram que, apesar da mãe ter sido infectada pelo zika na gestação, o bebê não tinha anticorpos do vírus. Ou seja: tudo indica que não foi atingido.

“Precisamos agora aumentar o número de casos em estudo para confirmar se no fim da gestação a placenta mais madura consegue filtrar ou segurar o vírus, ou se o bebê é refratário [imune]”, afirma.
Ainda de acordo com Duarte, a análise da placenta de gestantes infectadas pelo vírus em fases diferentes da gestação trouxe um novo achado: o de que o vírus da zika é capaz de permanecer na placenta meses após a infecção.

“Ele persiste na placenta, e isso é complicadíssimo”, ressalta Santos, para quem o resultado aumenta as chances de transmissão congênita do vírus.

CÉREBRO COMO ALVO

Em três dos casos analisados, as mães deram à luz a bebês com microcefalia e outras má-formações severas. Os bebês, no entanto, morreram em até 24 horas após o parto. Em outro caso, a mãe sofreu um aborto espontâneo.

Para estes, a análise, feita em conjunto com a patologista Lúcia de Noronha, da PUC-PR, confirma indícios já levantados em outros estudos anteriores: o de que o vírus tem preferência por infectar o cérebro dos bebês.

Além do cérebro, foram analisados tecidos de outros órgãos, como rins, pulmão e baço. “A maioria não apresentou lesões pelo vírus, e os que apresentaram, tiveram lesões secundárias”, relata Santos.

Ou seja: as lesões, assim, estariam relacionadas a uma consequência da má-formação do cérebro, e não a um impacto direto do vírus –este, não detectado nestes locais.

Exames mostram a ocorrência de uma inflamação no cérebro que destrói os neurônios e as células da glia, que fazem a defesa e dão suporte ao sistema nervoso. As mesmas células são responsáveis pela maturação dos neurônios durante o desenvolvimento do cérebro dos embriões –daí a ocorrência de possíveis lesões graves no cérebro dos bebês.

Natália Cancian

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