Quanto mais se sabe sobre o zika, pior é o cenário, diz OMS

22 de março, 2016

(UOL, 22/03/2016) Diretora-geral da organização alerta sobre “crise de saúde muito severa” caso o vírus se espalhe para além da América Latina e do Caribe. No Brasil, Ministério da Saúde prevê expansão do surto no Sul e no Centro-Oeste.

“Quanto mais sabemos sobre o zika, pior parecem as coisas”, afirmou Margaret Chan, diretora-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS) nesta terça-feira (22). Até agora, a circulação do vírus já foi registrada em 38 países e territórios.

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OMS cobra reforço no combate ao Aedes aegypti para conter vírus da zika (Folha de S.Paulo, 22/03/2016)
OMS: 1ª grande onda de zika pode acabar antes de a vacina ficar pronta (O Globo, 22/03/2016)

“Ninguém pode prever se o vírus vai se espalhar para outras partes do mundo e provocar o aumento de casos de malformações e síndromes”, disse Chan em relação à microcefalia e à síndrome Guillain-Barré, ligadas à infecção pelo zika.

Até o momento, a epidemia se concentra em países da América Latina e do Caribe. “Se ela se espalhar para além desses territórios, o mundo vai enfrentar uma crise de saúde muito severa”, alertou a diretora-geral, em coletiva de imprensa em Genebra.

Brasil tem 863 casos confirmados

No Brasil, 4.268 casos de microcefalia estão sendo investigados. Houve 863 confirmações desde outubro de 2015, quando o país alertou a OMS sobre uma possível epidemia. A região mais atingida é a Nordeste, com 833 recém-nascidos com a malformação congênita.

Entretanto, Estados em outras regiões não estão fora de risco, afirma o Ministério da Saúde.

“Estamos prevendo uma expansão [do surto de zika e dos casos de microcefalia] nas regiões Sudeste e Centro-Oeste”
Claudio Maierovitch, diretor do Departamento de Vigilância de Doenças Transmissíveis do ministério

“Sabemos que está crescendo a circulação nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal. Inclusive no estado do Paraná, que já é região Sul”, adiciona.

O futuro da epidemia

Apesar de ter sido detectado em vários países da América Latina, o zika ainda não está circulando há tempo suficiente nesses locais para que houvesse maior registro de bebês com microcefalia e pacientes com Guillain-Barré. Segundo Chan, os casos de malformação são normalmente observados meses após o início da epidemia do vírus.

Entre pesquisadores, o desenrolar do cenário também causa espanto. “A epidemia está se espalhando numa velocidade muito maior que antes esperada”, comenta Christovam Barcellos, da Fundação Oswaldo Cruz.

A princípio, cientistas no Brasil previam que o zika seguisse o comportamento do vírus da dengue e atingir as mesmas áreas. No entanto, essa percepção mudou: é possível que ele chegue a zonas onde a temperatura média esteja abaixo dos 20 graus, como é o caso da dengue.

Nesse caso, países do hemisfério norte poderiam ser atingidos com mais força. “Ao mesmo tempo que existe potencial de expansão para outras partes do hemisfério norte, isso é amenizado pelo fato de o vírus ser transmitido pelo Aedes aegypti – um mosquito que reside em países de clima tropical”, ressalta Gary Nabel, chefe científico da desenvolvedora de vacina Sanofi, baseada nos Estados Unidos.

No passado, o zika sofreu mutação, deixou de contaminar apenas macacos e passou a ocorrer também em seres humanos. Saiu da África e chegou à Polinésia Francesa nessa nova versão, que é a mesma que circula pela América Latina. A ciência não descarta que o vírus possa se transformar de novo para se adaptar a um novo clima.

“Até agora, mosquitos de clima temperado não transmitem zika. Mas mudanças na gama de hospedeiros já foram observadas para outros vírus, como o chikungunya, e elas têm consequências profundas”, pontua Nabel. Por suas características geográficas, países da Europa Central, sudeste da Austrália, nordeste da China, norte do Japão e parte do Oriente Médio estão na área de abrangência do clima temperado.

Vacina e combate

O risco de uma epidemia de zika se alastrar por países como Estados Unidos e causar malformação em recém-nascidos faz com que equipes de pesquisadores locais se dediquem ao tema. “O controle do vetor é especialmente importante para nós”, comenta Nabel.

No Brasil, o Ministério da Saúde espera que os investimentos em ações para eliminar criadouros do mosquito comecem a dar resultados a partir de abril. “Ainda não temos esses resultados medidos”, afirma Maierovitch. De 2010 a 2015, o gasto para combater o mosquito cresceu 39%, passando para 1,2 bilhão de reais. Neste ano, o montante deve chegar a 1,8 bilhão de reais.

Na avaliação de Chan, o mundo ainda carece de um teste rápido que diagnostique o vírus com segurança. Segundo a OMS, 30 companhias estão trabalhando na questão. O desenvolvimento de uma vacina também seria urgente. Atualmente, 23 projetos estão em andamento em 14 locais diferentes, nos Estados Unidos, França, Brasil, Índia e Áustria.

A expectativa é de que os primeiros testes clínicos sejam realizados ainda no fim de 2016 – até lá, a onda explosiva da epidemia já pode ter chegado ao fim. “Ainda assim, concordamos que o desenvolvimento da vacina é um imperativo. Mais da metade da população mundial vive em áreas onde o aedes aegypti está presente”, afirma Chan.

Nádia Pontes

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