Pesquisa com 79 mil pessoas mapeou efeitos de restrição; pesquisador faz ressalva, no entanto, de que é cedo para traçar uma correlação direta
Em 2021, uma lei instaurada no Texas, nos Estados Unidos, restringiu o acesso ao aborto com um novo critério para o procedimento: ele só poderia ser realizado antes que fosse possível detectar atividade cardíaca embriônica. Esse marcador pode ocorrer cedo na gestação, por volta de seis semanas. A lei foi apelidada de “lei do batimento cardíaco”, ou “heartbeat act”, e, depois de sua implementação, a realização de abortos com apoio médico caiu 57% no estado.
Um novo estudo publicado nesta segunda-feira (12) na revista científica Jama (Journal of the American Medical Association) sugere que a medida deixou texanos –homens e mulheres– mais aflitos.
A pesquisa, conduzida por Jusung Lee, da Universidade do Texas em San Antonio, tem como base uma amostra de 79.609 indivíduos, entre eles homens e mulheres do Texas –14.500 e 15.614, respectivamente– e 49.495 mulheres de outros estados. O nível de estresse foi auto reportado.
Lee observou que o nível de estresse frequente de 2012 a 2022 aumentou de 14,2% para 21,9% entre as mulheres no Texas. Elas representam 15.614 das entrevistadas. Entre os homens, 14.500 dos entrevistados, o nível de estresse foi de 11,1% para 15%.
Em comparação com o nível de estresse observado em mulheres de outros cinco estados –Arkansas, Indiana, Kentucky, Mississipi e Oklahoma–, as do Texas ainda são as mais aflitas. Lá, o nível de estresse está cinco pontos percentuais acima desses estados.
Se comparadas às mulheres da Califórnia, as texanas estão ainda mais estressadas –a diferença foi medida em seis pontos percentuais. O estado tem um longo histórico de apoio ao acesso ao aborto e à contracepção, posição que foi reforçada em 2022, quando tanto o aborto, quanto a contracepção se tornaram direitos constitucionais. A população da Califórnia foi escolhida pela composição étnica similar à do Texas, diz o pesquisador.
O pesquisador diz que a inclusão de outros estados serviu para reduzir a influência de outros estressores no período, caso da pandemia de Covid-19 de 2020.
Foram escolhidos lugares que tiveram políticas similares para a pandemia e que também aumentaram as restrições ao aborto com a derrubada, em 2022, da decisão federal Roe v. Wade, de 1973, que garantia direito constitucional ao procedimento. Com a decisão, Texas e outros estados passaram a proibir o procedimento.