(O Estado de S. Paulo, 13/12/2015) Novos dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em sua última Síntese de Indicadores Sociais de 2015 mostram uma queda na participação das adolescentes na fecundidade do País.
Em 2004, eram 78,8 nascimentos a cada mil mulheres na faixa de 15 a 19 anos. Em 2014, o índice caiu para 60,5. Em dez anos, a participação das adolescentes na fecundidade recuou de 18,4% para 17,4%. Apesar da queda, os números ainda são muito altos. Os dados foram publicados na semana passada pelo Estado.
Nas últimas duas décadas, o Brasil vem conseguindo diminuir a gestação na adolescência de forma importante, mas quase um em cada cinco partos ainda continua sendo feito em mulheres muito jovens.
Os números são mais elevados nas populações mais excluídas, com escolaridade mais baixa, menor renda e núcleo familiar desestruturado. Importante notar que, mesmo em cidades como São Paulo, há territórios em que esses índices variam brutalmente. Na periferia, as taxas podem ser 15 a 20 vezes mais altas do que no centro, onde recursos culturais, sociais e educacionais estão mais presentes.
De acordo com os dados do IBGE, 69% das mães adolescentes são pretas ou pardas, 85% não completaram o ensino médio, 92% se dedicam aos trabalhos domésticos e quase 60% não estudam nem trabalham.
Os resultados mostram que ainda há muito a ser feito para que essas adolescentes possam adiar a primeira gestação e, assim, garantir mais tempo na escola e melhores condições de inserção no mercado de trabalho. A gestação nessa faixa de idade é um dos principais fatores de evasão escolar. Boa parte dos casos de gestação na adolescência ainda é planejada ou desejada pelas jovens mães como forma de tentar obter um novo “papel social”.
Além de trabalhar as motivações emocionais por trás desse fenômeno e de discutir a questão do projeto de vida, seria fundamental garantir mais acesso a insumos de saúde que possibilitem o melhor planejamento reprodutivo nessa faixa etária.
Tradicionalmente, o preservativo e o anticoncepcional são os mais indicados. No entanto, sabe-se que as adolescentes têm grande dificuldade em aderir a métodos que exigem regularidade. O emprego emergencial da pílula do dia seguinte, por exemplo, tem crescido nos últimos anos entre as adolescentes, enquanto o uso da pílula convencional segue relativamente baixo.
Métodos de longa duração. Algumas alternativas têm sido usadas para as adolescentes em outros países. Os métodos reversíveis de longa duração, como alguns tipos de DIU (dispositivo intrauterino) e os implantes hormonais subcutâneos, que podem durar de três a cinco anos, foram recomendados pela Associação Americana de Pediatria em 2013 na revista Pediatrics. Também são avalizados por outras sociedades médicas, como o Colégio Americano de Obstetrícia e Ginecologia. Além da alta eficácia, esses métodos não dependem de disciplina no uso.
No Brasil, a Comissão Nacional de Incorporação de Novas Tecnologias no SUS (Conitec), em reunião no início deste mês, iniciou a apreciação de um projeto da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) para incluir os métodos reversíveis de longa duração para as adolescentes de 15 a 19 anos na rede de postos de saúde de todo o País. No início de 2016, a apreciação da proposta deve ser aberta para consulta pública.
Acesse o PDF: SIS mostra redução do número de casos de gravidez na adolescência, por Jairo Bouer (O Estado de S. Paulo, 13/12/2015)