(O Globo) Economistas divergem quanto ao risco de a desigualdade estar caindo mais devagar no Brasil. O debate veio à tona com a divulgação, anteontem, do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que apontou o Brasil na 85ª posição, entre 187 países. Porém, quando o IDH é ajustado pela desigualdade, o país cai para o 97º lugar.
Especialistas alertam sobre o baixo crescimento econômico e o papel gradativamente menor da educação como indutor da melhora na distribuição de renda são fatores que podem limitar a queda na desigualdade, que foi marcante nos últimos anos. Outros economistas, porém, não veem sinais de que a histórica disparidade de renda do país esteja sendo reduzida mais lentamente.
— Estamos com dificuldade de ampliar a produtividade do trabalho. Se ela não avança, temos um crescimento mais lento da renda e do salário e o impacto na arrecadação do Estado pode afetar as políticas distributivas — alerta o professor da Unicamp Claudio Dedecca. — O desafio para a redução da desigualdade a curto prazo é destravar as restrições ao crescimento.
Política tributária pune os pobres
Para a professora da UFRJ Lena Lavinas, o bom desempenho do mercado de trabalho, a despeito da fraca expansão econômica, ainda deve contribuir para a redução da desigualdade.
— No período recente, o que de fato contribuiu para a desigualdade menor foi o mercado de trabalho. O ganho real expressivo do salário mínimo teve efeito distributivo grande — diz Lena.
Na sua avaliação, o Brasil ainda é o 13º país mais desigual do mundo — como mostrou o relatório do IDH — porque negligencia dois mecanismos para reduzir a desigualdade: a política tributária e as políticas sociais. A maior parte da incidência dos impostos é sobre consumo — que pesa sobre os mais pobres —, enquanto o Imposto de Renda para pessoas físicas têm poucas alíquotas.
O secretário de Ações Estratégicas do governo federal, Ricardo Paes de Barros, não vê sinais de desaceleração na melhora da distribuição de renda:
— A vantagem da queda da desigualdade brasileira é que vem de todas as partes. Existe um leque amplo de políticas sociais e, por isso, é sustentável.
O pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Rafael Osório também não vê mudança significativa na intensidade da redução da desigualdade. E diz que foram tomadas recentemente medidas importantes: o programa Brasil Carinhoso, a curto prazo, e o Fundo de Previdência Complementar dos Servidores, a longo prazo.
Com dois filhos que cria sozinha, a dona de casa Gleice Severina de Sousa, de 23 anos, tem como única renda fixa os R$ 134 do Bolsa Família. Ela mora na comunidade do Coque, em Recife, e faz algumas faxinas no mês, quando consegue que sua irmã fique com os filhos.
Acesse em pdf: Crescimento baixo pode frear avanço na distribuição de renda (O Globo – 16/03/2013)
Leia também: IDH e os limites do Bolsa Família (O Globo – 16/03/2013)