#AgoraÉQueSãoElas: A publicidade e a figura feminina

05 de novembro, 2015

(UOL, 05/11/2015) Mulheres na propagada estão destinadas a ser brindes de cerveja, não dirigem seus próprios carros e morrem de medo de menstruação

A Revista O Grito! apoia a campanha #AgoraÉQueSãoElas, onde os veículos de comunicação, colunistas e blogueiros cedem espaço para as mulheres discutirem questões de gênero, feminismo e violência contra a mulher. A iniciativa foi criada por Manoela Miklos. Alexandre do Trabalho Sujo, explica melhor.

“Eu odeio a Barbie (nada contra a empresa que a produz, entendam-me, por favor!) Mas esse conceito estúpido e slogan machista imputado à eterna diva das bonecas “Tudo o que você quer ser”, não me convencia nem quando eu media 1m de altura! Eu não gostava de bonecas! Eu queria jogos interativos, um estojo de pintar, um livro do Sítio do Pica-pau Amarelo, qualquer coisa…mas uma boneca? Crescidinha que já estou, explico: Eu nunca quis ser a Barbie. A Barbie nada mais seria do que a representante das loiras altas, de longas pernas, esguias e com seios que apontam para o firmamento, ricas, peruas e que tem dois namorados (Bob e Ken). Não que eu seja feminista, mas, sinceramente, alguém conhece alguma mulher que gostaria de ter sido a Barbie um dia? Acredito que hajam algumas por aí (por que não? Viva a democracia!) Mas não é o meu caso. Eu odeio a Barbie. Ponto final.”

Esse textículo aí em cima foi escrito há mais de uma década. Acabei de queimar a língua por conta do recente comercial “Barbie, imagine the possibilities”, na qual a rainha das bonecas se redimiu e as meninas se imaginam como vozes ativas e empoderadas dentro de contextos cotidianos. Mas eu – amante que sou de publicidade – sinto calafrios quando vejo algumas barbaridades aí na qual os clientes despejam rios de dinheiro na tentativa vã de vender seus produtos.

Definitivamente, o espaço publicitário ainda tem muito a amadurecer em relação às mulheres, ao que elas desejam e à forma como são retratadas. Não vou aqui me fiar em números, mas preciso citar o perfil da perfil da Liga das Heroínas, que debate muito bem as questões ligadas a esse mercado. Elas ainda são minoria nas agências, passam por situações constrangedoras em um nicho que deveria estar atento aos anseios do mercado consumidor. Pois é, deveria não?

Pra ilustrar bem esse texto pedi ajuda a três amigxs publicitárixs. Tivemos uma dificuldade tremenda em encontrar exemplos de boas propagandas que estivessem atentas e em consonância com o desejo do mulherio. Pior, na vida real, as mulheres terminam sendo vítimas de todos os estereótipos deflagrados pelos meios de comunicação de massa reforçados pela publicidade: Há de ser bela, esguia, ter pernas longas, quadris curvilíneos, usar manequim 38, possuir pele de pêssego e cabelos esvoaçantes e sedosos.

Mulheres na propagada estão destinadas a ser brindes de cerveja, não dirigem seus próprios carros (salvo raras exceções, como cito abaixo com o caso do Malbec) e não podem vivenciar as experiências usuais ao universo feminino como TPM. Morrem de medo de ter vazamentos (façam feito eu e usem coletor menstrual, vão por mim), seus corpos parecem não pertencer a si mesmas, mas destinados ao prazer do próximo. Muito raro mesmo são marcas apostarem na autoestima de suas clientes, como a Dove em sua campanha “Retratos da Real Beleza”.

Então não vou me estender muito, prefiro deixar o leitor mais curioso com alguns exemplos. Dividimos em duas categorias. Como podem ver, a listagem de “Uma salva de Palmas” é bem mais curta do que a “Parabéns a todos os envolvidos”. Uma pena. Antes de abrir os links abaixo, te convido a ver primeiro essa reflexão do Jornal Zero Hora, sobre o tema.

Em tempo: Tenho muitos amigos publicitários e não quero correr o risco de deixar algum deles de fora dos agradecimentos e por serem exceções a esse mundo estranho da misoginia publicitária. Escolho aqui Luciano Mattos para representá-los e seu belo texto do #MeuNãoPrimeiroAssédio.

Categoria “Uma salva de palmas, maestro”:

Quadrinhos ácidos, que resume tudo muito bem.

mulher

Always – Do it like a Girl

Barbie – Imagine the possibilities

Princesas boca suja

Malbec – Você faz toda a Diferença

Perro Libre. Sem rótulo, sem coleira

Categoria: “Parabéns a todos os envolvidos ¬¬”

NET, claro que TUDO o que eu quero ser da minha vida é uma princesa que acha que um cartão de crédito seria mais importante do que um príncipe. Aliás, eu tinha pedido um sanduíche de mortadela e um Carnaval aí, viu?

Bombril – Diva, Divagar

(Nota da autora – eu acho isso daqui machista, ok?)

Samsung Eco Bubble – (Sim, porque homem não lava roupa né? Só mulher)

samsung

Meu Deus, como eu vivo sem o Mr. Músculo?

mrmusculo

Alguém me diz que isso é piada? (mas acho que é mesmo) Tampax, supostamente, na Rússia. Faz feito eu, usa coletor menstrual, vai de copinho.

Bic – Caneta só pra elas. É tão bizarro que deixo a Ellen explicar. Seria piada?

Eu não quero transparência, quero conforto, Dona Duloren

dulorean

Bombrill, Mulheres evoluídas. Sem comentários

A Cerveja Crystal e o ‘brinde’ de surpresa

Porra Heineken, eu te amo. E ODEIO sapatos

Pra resumir todas as cervejas, taqui um doc curtinho e tosquinho, mas é bem por aí

Iara Lima

Acesse no site de origem: #AgoraÉQueSãoElas: A publicidade e a figura feminina (UOL, 05/11/2015)

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