Seminário A Mulher e a Mídia 7 – Abertura

03 de janeiro, 2011

(Por Patrícia Negrão*, da Agência Patrícia Galvão) Pelo sétimo ano consecutivo, o Seminário Nacional A Mulher e a Mídia reuniu profissionais da imprensa, gestoras/es, pesquisadoras/es e ativistas de todo o país. O evento aconteceu de 2 a 4 de dezembro, no Rio de Janeiro, e foi realizado pela Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM), pelo Instituto Patrícia Galvão – Comunicação e Mídia e pelo Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher (Unifem – ONU Mulheres).

Seminário A Mulher e a Mídia: sete anos aprofundando o debate e qualificando a ação

A mesa de abertura do Seminário contou com a participação da ministra Nilcéa Freire, da SPM; de Junia Puglia, gerente de programa do Unifem – ONU Mulheres Brasil e Cone Sul; de Jacira Melo, diretora executiva do Instituto Patrícia Galvão; das deputadas federais Benedita da Silva (PT-RJ), Sandra Rosado (PSB-RN) e Jô Moraes (PCdoB-MG); e da deputada estadual Inês Pandelo (PT-RJ).

Nilcéa Freire deu as boas-vindas às 250 participantes de 23 estados e destacou a importância da sétima edição do evento. “Isto não é trivial. Há sete edições, temos um encontro marcado no mês de dezembro que nos permite não só colocar em dia nossa percepção sobre a sociedade em dia como produzir instrumentos que nos auxiliam a avançar nos direitos da cidadã brasileira”, enfatizou a ministra. “Estamos todas mais sábias. Eu aprendi muito neste espaço e nos sete anos que tive o privilégio de dirigir a SPM”, completou.

Jacira Melo agradeceu e enfatizou o interesse das participantes. “Sei que é um enorme esforço estar aqui. Em maio, interessadas já começam a nos contatar e pedir informações, pois querem fazer poupança para o transporte. Neste ano, recebemos mais de 600 pré-inscrições e foi possível confirmar 250. É fundamental que a Secretaria de Políticas para as Mulheres cresça de status político e financeiro no governo da presidenta Dilma. Também é estratégico para as políticas para as mulheres o aprofundamento do debate e da elaboração de propostas sobre gênero, raça e direito à comunicação. Que em 2011 haja continuidade desse importante investimento do governo federal e da SPM para impulsionar as discussões sobre Mulher e Mídia”.

Jacira destacou a diversidade e atualidade dos temas abordados nas sete edições do Seminário A Mulher e a Mídia, como telejornalismo, publicidade, telenovela, revistas femininas, internet, regulação da mídia, mídia e eleições nas perspectivas de gênero e raça etc. “Os Seminários começaram a partir da gestão de Nilcéa Freire e têm contribuído para o aprofundamento do debate no Brasil, permitindo a construção de um pensamento coletivo”, afirmou a diretora executiva do Instituto Patrícia Galvão. “Em 2004, saímos acreditando no primeiro A Mulher e a Mídia. Não nos equivocamos, sempre somos muito bem surpreendidas pela visão política da SPM. A ministra Nilcéa é um exemplo de gestora pública para todas nós. Ela faz a diferença para a discussão do tema mulher e mídia no país.”

Nilcéa Freire: uma gestão extraordinária à frente da SPM

Assim como Jacira Melo, todas as participantes da mesa foram unânimes sobre o importante papel da Secretaria de Políticas para as Mulheres no governo que se encerra e nos avanços conseguidos pela ministra Nilcéa Freire durante os sete anos no comando da SPM. Junia Puglia, gerente de Programa do Unifem – ONU Mulheres, recordou quando recebeu a notícia, há sete anos, de que Nilcéa Freire, então reitora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), seria nomeada ministra da SPM.

Segundo Junia, a princípio, todas ficaram um pouco receosas no Unifem. “No discurso de posse, a ministra Nilcéa foi muito clara e direta, como ela sempre é, e disse: ‘Eu não sou do movimento feminista.’ Silêncio. No dia seguinte, chegaram centenas de e-mails”, contou Junia. “E fomos surpreendidas com uma gestão extraordinária. Não me recordo de nenhuma gestão como a dela sobre o tema política de gênero e equidade no nosso país. Uma sorte danada ela ter sido nomeada e esperamos que ela continue na Secretaria.”

Junia Puglia ressaltou também a importante contribuição da SPM na reflexão e análise da cobertura da mídia sobre os direitos das mulheres brasileiras. “Eu estava presente na reunião na qual foi criado o Instituto Patrícia Galvão, em São Paulo, – uma instituição que falasse e cuidasse da imagem da mulher na mídia e levasse a agenda das mulheres para os meios de comunicação. A proposta do Instituto se encontrou com a agenda da SPM e, nestes sete anos de casamento da agenda das mulheres com os meios de comunicação, os avanços foram inegáveis”, afirmou a representante do Unifem.

Reduzida participação das mulheres na política e na mídia

Neste momento de transição de governo, quando pela primeira vez na história do país uma mulher assumirá a Presidência da República, um dos temas da mesa de abertura não poderia deixar de ser a perspectiva e o comprometimento do governo Dilma Rousseff com políticas públicas para igualdade de gênero e mídia e mulheres no poder.

A deputada Benedita da Silva defendeu a união ao invés de disputa partidária entre as mulheres. “Nossa representatividade se faz muito necessária nas composições, nas articulações políticas. A presidente eleita já disse que quer mais mulheres nos espaços políticos. Somos poucas, somente 45 mulheres no Parlamento brasileiro; Dilma Rousseff precisa da solidariedade de cada uma de nós”, afirmou a deputada federal. Ela destacou também a importância da participação das militantes dos movimentos negros no Seminário A Mulher e a Mídia. “A mídia retrata de maneira retorcida não só gênero, mas etnia e raça. É muito difícil para nós, mulheres negras, projetarmos a imagem da nossa competência. Temos uma grande luta para conseguir aparecer adequadamente na mídia.”

A deputada federal Sandra Rosado, assim como Benedita da Silva, demonstrou preocupação com o baixo número de mulheres eleitas. “Diminuímos o número de mulheres em Brasília, somos somente pouco mais de 8%, mas isso não vai nos amedrontar e nem enfraquecer nossa luta de transformação da sociedade. Temos enfrentado todos os obstáculos que surgem a nossa frente. E, se somos somente 8%, a culpa não é nossa”, afirmou ela.  A deputada federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte, contou que na sua cidade as mulheres são pioneiras na política. “A primeira eleitora inscrita na América Latina, em 1947, era uma moradora de Mossoró. Mas o juiz impugnou seu direito ao voto. Continuamos nossa luta e nossa cidade já elegeu prefeita, vice-prefeita e governadora do Estado. Nossa união é muito importante.” Ela ressaltou ainda o preconceito contra candidatas mulheres. “Nasce dentro dos partidos, que impedem nossa participação, pois temos de mendigar pelos investimentos, que vão sempre para as candidaturas masculinas. A mídia também não nos dá voz, continua contrária ou omissa ao que realizamos. Para a imprensa é mais interessante noticiar um deputado com namorada nova ou jogando futebol do que falar das mulheres como legisladoras”, indignou-se Sandra. 

Democratização da mídia e combate ao preconceito

A deputada estadual Inês Pandeló também apontou o preconceito de gênero durante as eleições. “Vimos o preconceito de gênero vir à tona com tanta força. Este é o sétimo A Mulher e a Mídia e o sete é o número da perfeição. Não queremos chegar à perfeição, que é um caminho a ser percorrido sempre, mas estamos avançando cada vez mais nesse caminho, ocupando cada vez mais espaços. Temos que conquistar ainda muitos direitos.” Ela sugeriu: “Precisamos ficar atentas à mídia alternativa, via Internet, que nessas eleições teve sua força colocada. E prestar atenção também na discussão sobre a democratização dos meios de comunicação. São subsídios importantes para que nós, mulheres, consigamos com que a mídia represente melhor nossa realidade”.

Para a deputada federal de Minas Gerais, Jô Moraes, a “teimosia” das mulheres é um importante instrumento de transformação. “O sétimo A Mulher e a Mídia é a expressão do que representa nossa luta. Uma luta longa. Estamos conseguindo impor nossas bandeiras. Caso contrário, não teríamos conquistado políticas públicas avançadas que levam em consideração os direitos das mulheres e nem uma mulher teria chegado à Presidência do país”. Ela contou também que é relatora de um projeto de lei sobre direitos homoafetivos, que não consegue colocar na pauta do Congresso. “Não estamos indicando simplesmente Nilcéa Freire para continuar na SPM, mas estamos indicando nossas conquistas de oito anos. Sei o quanto é difícil conquistar políticas públicas no meio daqueles machos. Nilcéa é briguenta, inteligente e se ama. Precisamos de uma mulher completa como ela para continuarmos nossa luta”, enfatizou Jô Moraes.  

Uma ministra feminista na SPM

Nilcéa Freire encerrou a mesa de abertura recordando o início de sua gestão na SPM. “Eu não vim do movimento feminista, mas aprendi muitíssimo, me incorporei. Faço parte das 34% de mulheres captadas pela pesquisa da Fundação Perseu Abramo que, de 2001 a 2009, passaram a se declarar feminista”, disse ela. Sem esconder a emoção, Nilcéa relembrou sua nomeação para ministra. “Eu disse que um dia eu iria contar publicamente e vou contar hoje. Sou militante desde os 16 anos, por educação e saúde. Meu percurso é acadêmico, de autonomia e de liberdade – sempre colocadas como questões fundamentais. Eu ouvi na TV, no Bom Dia Brasil, de camisola, que meu nome estava sendo indicado para a SPM. O presidente Lula me chamou para a 1ª conversa sobre o ministério. Fui a Brasília. Ele me disse que eu estava muito assustada. E eu estava mesmo. Apreensiva com o convite e o tamanho da responsabilidade. Mas ele me deixou completamente à vontade. Resolvi adverti-lo de que eu não era do movimento de mulheres, da militância feminista, e que muitas mulheres iriam reclamar da sua escolha. Disse também que eu não era militante orgânica de nenhuma tendência dentro do Partido dos Trabalhadores e não sabia se aquilo era um problema. Ele deu uma gargalhada e me respondeu: ‘Você acha que eu não sei tudo isso? Você vai dar conta do recado. Universidade é mais complicado do que ministério.’ Daí apareceu o ministro José Dirceu e avisou ao presidente que todos já estavam lá embaixo, que tínhamos de descer para a minha posse. Eu não sabia que a posse seria naquele mesmo dia, naquela mesma hora. Só tive tempo de passar um batom.”

Em 2003, a SPM contava com uma equipe de 70 pessoas, da companheira do café até a ministra. Hoje somos 150. Eu sabia que uma equipe de 70 pessoas não faria mágica. Só pudemos fazer as atividades em todo o Brasil, e com a extensão que fizemos, porque contamos com uma equipe estendida de colaboradoras e ativistas da causa.”

Em seguida, a ministra ressaltou o seu otimismo e confiança em relação ao novo governo. “Tenho consciência de que elegemos não só a primeira mulher presidente do país, mas uma mulher com a história de Dilma Rousseff, que não se acovardou na tortura, não optou pelo caminho fácil depois do arroubo da juventude. E testou sua coragem no limite quando aceitou a proposta do presidente Lula de ser candidata à Presidência do Brasil.”

Ao finalizar sua fala, Nilcéa Freire reforçou seu comprometimento com o governo de Dilma Rousseff. “Tenho muita tranquilidade. Dilma irá honrar a mulher brasileira e fará o melhor para o avanço das políticas públicas para mulheres. Nós precisamos estar ao lado dela, apoiá-la para garantir a continuidade dessas políticas. E não vai ser fácil. Não vamos permitir qualquer retrocesso. Estou disposta a ajudá-la e vou cooperar dentro ou fora do governo, em qualquer posição.” 

Seminário Nacional A Mulher e a Mídia 7
Rio de Janeiro, 3 de dezembro de 2010
Mesa de Abertura
Nilcéa Freire
, ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres
Junia Puglia, gerente de programa do Unifem – ONU Mulheres Brasil e Cone Sul
Jacira Melo, diretora executiva do Instituto Patrícia Galvão – Comunicação e Mídia
Benedita da Silva, deputada federal (PT-RJ)
Sandra Rosado, deputada federal (PSB-RN)
Jô Moraes, deputada federal (PCdoB-MG)
Inês Pandeló, deputada estadual (PT-RJ) 

* Patrícia Negrão é jornalista.

 

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