(Marina Gama, da Folha.com) A maioria das vítimas de homofobia na cidade de São Paulo conhece seus agressores de acordo com dados preliminares do CCH (Centro de Combate à Homofobia), da Cads (Coordenadoria de Assuntos de Diversidade Sexual), ligada à prefeitura.
08/06/2012 – Apuração de crimes contra homossexuais cresce em São Paulo
Segundo o levantamento, 73,4% daqueles que sofreram algum tipo de violência e foram atendidos no centro em 2011 sabem quem são o agressor. Em 23,8% das ocorrências, há vínculos familiares entre eles.
Para o coordenador da Cads, Franco Reinauldo, os números de casos de vínculos são reflexos da ausência de uma legislação específica que criminalize esse tipo de violência. “Mesmo sabendo que ele vai ser reconhecido, ele pratica a violência. Há uma sensação de impunidade muito grande”, afirmou.
Neste ano, a Parada Gay terá como tema “Homofobia tem Cura: Educação e Criminalização”. O evento vai pedir a aprovação do projeto de lei 122/06, há seis anos tramitando no Senado, que criminaliza a homofobia. Também querem a aplicação do projeto Escola Sem Homofobia, voltado a professores da rede pública.
Dentro das denúncias recebidas, mais de um terço da violência (35%) de 2011 ocorreu na região central da cidade. “A área engloba desde a avenida Paulista até a Sé, onde boa parte de LGBT se deslocam para se divertir”, disse Reinauldo.
O investigador da Decradi (Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância) Nelson Collino Jr. aponta ainda que a região concentra outros bares e casas temática frequentados por grupos de intolerância, principalmente na área próxima à rua Augusta.
A região da subprefeitura da Lapa concentra 7,9% das denúncias. Em seguida vêm as regiões da Penha e da Mooca, com 5,9%.
AUMENTO DE CASOS
As denúncias de vítimas de violência e preconceito devido a orientação sexual levado aos CCH mais que dobraram em São Paulo. Em 2010, o centro recebeu 46 denúncias de homofobia, contra 101 em 2011. Um crescimento de 119%.
Os registros que passam pelo centro são classificados entre violência simbólica (ameaças, ofensas, calúnia ou injúria), institucional (restrições de acesso a serviços de órgãos públicos ou privados) e física.
Os números da violência física subiram de 11 casos em 2010 para 26 em 2011. Já a violência institucional foi a que mais aumentou: de 6 denúncias recebidas em 2010, cresceu para 17 no ano seguinte. No caso da violência simbólica o crescimento foi de 29 em 2010 para 58 em 2011.
“A visibilidade que a mídia dá e a criação de mais serviços especializados no atendimento ao público LGBT fizeram com que as pessoas se sentissem mais à vontade para denúncia, além de perceberem que há resultados, não para na [etapa da] denúncia”, afirmou.
Ainda que as denúncias tenham aumentado, Reinauldo acredita que se trata apenas da “ponta do iceberg”, já que a maioria das denúncias que o CCH recebeu até 2011 foi feita presencialmente.
“Sabemos que muita gente que mora na periferia não tem condição de acessar o serviço no centro da cidade. Mas em dezembro de 2011, lançamos a ferramenta Centro de Referência Online, onde as pessoas podem denunciar pela internet, que fez com que as denúncias crescessem ainda mais”, afirmou.
Acesse em pdf: Levantamento aponta que vítima de homofobia conhece seu agressor (Folha.com – 09/06/2012)