22/01/2012 – Estudar e subir na vida ganham mais importância do que casar e ter filhos, mostra pesquisa

22 de janeiro, 2012

datafolha22012012_classessociaisporsexo(Folha de S.Paulo) Pesquisa Datafolha indica que a escolaridade é o principal fator de distinção das classes sociais no Brasil, mais do que a posse de bens de consumo e a renda. Carreira é mais valorizada do que o casamento.

Para adotar a nomenclatura (classe alta, classe média alta, classe média intermediária, classe média baixa e excluídos), o Datafolha ouviu 1.890 pessoas com 16 anos ou mais, responsáveis por ao menos parte das despesas na casa onde moram, em 144 municípios de todo o Brasil.

Os entrevistados foram divididos em grupos conforme a renda mensal familiar, a escolaridade e a classe econômica (definida com base na posse de bens de consumo).

datafolha22012012_classessociaisporidade
O resultado dessa divisão e a análise de como os entrevistados se comportam, o que consomem, qual o nível de acesso a bens e serviços e quais valores prezam terminaram nos cinco grupos.


Estudar e subir na vida ganham mais importância do que casar e ter filhos
Érica Fraga
Mesmo separados por um hiato grande de renda familiar e de escolaridade, os brasileiros compartilham o desejo de subir na vida.
A realização profissional é considerada um valor muito mais importante do que casamento por integrantes de todas as classes sociais. Segundo o Datafolha, também prevalece a percepção de que a educação é o principal instrumento para a felicidade.
Para o cientista político Amaury de Souza, da MCM Consultores, com a universalização do acesso ao ensino fundamental, os trabalhadores precisam “ir além” para conseguir destaque no mercado de trabalho.
“Hoje não é mais possível ascender sem investimento em educação”, diz.
Já a importância atribuída à realização profissional, na opinião de Souza, está ligada “ao desejo de conquistar uma renda alta e estável”.
Escaldados pelo histórico de altos e baixos da economia do país, os brasileiros também passaram a valorizar a “estabilidade no trabalho”.
“Para ter uma família estruturada, poder dar aos filhos o que acho que eles vão precisar, preciso ser uma profissional completa”, diz a médica Denise Torejane, 28.
Ela está acabando a especialização em cirurgia plástica e trabalha ao menos 12 horas por dia. Tem namorado, mas diz que casar e ter filhos não é prioridade agora.
Casado e à espera da primeira filha, o professor universitário Leonardo Pio, 28, também diz que realização profissional é o que mais importa na sua vida hoje.
“Talvez eu passe a pensar de forma diferente com a chegada da minha filha, mas acho que realização profissional é importante tanto pelo retorno financeiro como pela conquista pessoal.”
Embora brasileiros de diferentes estratos sociais pareçam concordar sobre que aspectos são mais importantes para a felicidade, o grau de consenso é menor nas classes mais baixas.
Metade dos excluídos, por exemplo, citou o estudo como aspecto muito importante para a felicidade -na classe alta, o índice foi de 80%. Essa tendência se repetiu para quase todos os valores mencionados na pesquisa.
Segundo especialistas, isso pode indicar um grau maior de desilusão entre as camadas de renda menor. O desinteresse pela política parece confirmar essa leitura.
A falta de preferência por algum partido atinge 70% entre os excluídos, contra 54% na classe alta.

Nova classe média não é garantia de moderação política, dizem analistas
NELSON DE SÁ, ARTICULISTA DA FOLHA
Agora predominante no país, a classe média não é garantia de maior moderação política, afirmam analistas ouvidos pela Folha.
André Singer, professor de ciência política na USP, diz que a sensação de melhora, que não se restringe às classes médias, “contribui para um relaxamento das tensões sociais”. Mas quem está “passando a uma nova condição vai querer que o processo continue” e “reagiria a qualquer ameaça”.
Por outro lado, “na chamada classe média tradicional já se nota uma reação tensa”, por exemplo, “à ocupação de espaços: aeroportos, cinemas, muito carro na rua”. Como os demais, Singer afirma ter dúvidas quanto à denominação “nova classe média”, tendendo mais para “nova classe trabalhadora”.
Antônio Lavareda, cientista político, dono do Ipespe (Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas), com atuação em campanhas do PSDB, afirma que a “emergência de dezenas de milhões das camadas D e E em direção à C diminui a pressão, naturalmente”.
Sugere, porém, “muito cuidado” na generalização da “nova classe C”, como prefere chamar. “São socialmente um pouco mais conservadores”, por exemplo, quanto à liberação do aborto, “mas, no conjunto, daqui a pouco vão estar na média dos brasileiros”, quanto aos valores.
O marqueteiro João Santana, que comandou campanhas de Lula e Dilma, vai além e, “ao contrário”, prevê até maior polarização. “A ascensão social provoca a liberação de uma forte descarga de energia política.”
Ele vê quatro “sentimentos primários”: alegria pela melhora, medo de perda, desejo de imitar o novo grupo e disposição de se livrar de traços do grupo anterior.
“Qualquer ‘nova classe média’ tem uma cabeça complexa e cheia de nuances.”
Questionado se a escolha de candidatos como Dilma e Fernando Haddad reflete a nova situação, por seu apelo às classes médias, Santana responde que “sim, mas Lula também”. Para ele, o petista “fez a travessia juntamente com sua base social”.
Lavareda sublinha que a nova classe C é “muito vinculada ao lulismo e ao seu partido” e que os demais terão que lidar com a nova situação, sobretudo agora que essa classe é maioria.
Singer lembra que o PSDB “tem base forte na classe média alta, raízes sociais importantes nesses setores”, mas “sozinhos, não ganham eleição”. Daí “estar tentando falar com a chamada nova classe média, no caminho sugerido pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso”.


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Estudar e subir na vida ganham mais importância do que casar e ter filhos (Folha de S.Paulo – 22/01/2012)
Nova classe média não é garantia de moderação política, dizem analistas (Folha de S.Paulo – 22/01/2012)

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