31/05/2012 – USP adotará cotas raciais

31 de maio, 2012

(O Estado de S. Paulo) A Universidade de São Paulo acaba de dar o primeiro passo para a adoção de cotas raciais na seleção de seus alunos. Por aclamação, a Congregação da Faculdade de Direito do Largo São Francisco aprovou, em reunião realizada na tarde desta quinta-feira (31), uma recomendação ao Conselho Universitário da USP para que adote as cotas raciais.
“Foi um momento histórico. A congregação entendeu que ainda persiste na USP uma exclusão racial profunda”, disse o professor Marcus Orione, um dos principais defensores da proposta na congregação.
A reunião contou com a participação de representantes do movimento negro, que expuseram os problemas decorrentes da exclusão racial. “Ficou claro que este debate está maduro e não dá para esperar mais”, observou o representante da organização Uneafro, Cleyton Borges. “O sistema de inclusão adotado na USP não foi suficiente para alterar a profunda desigualdade entre brancos e negros no acesso aos seus cursos.”
A maior parte das escolas públicas de nível superior do País já adota algum tipo de cota para grupos indígenas e afrodescendentes.

Mas as universidade paulistas (USP, Unesp, Unicamp e Fatec) preferem outros sistemas. A preocupação é privilegiar estudantes oriundos da rede pública de ensino médio.

No mês passado, após o Supremo Tribunal Federal (STF) ter deliberado que o sistema de cotas raciais não fere a Constituição, o movimento negro de São Paulo começou a fazer pressões para que as universidades paulistas adotem o sistema. A Frente Pró-Cotas Raciais congrega cerca de 70 organizações.

Acesse em pdf: USP dá o primeiro passo para adoção de cotas raciais (O Estado de S. Paulo – 31/05/2012)

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Em 5 anos, só 0,9% dos matriculados em cursos de ponta da USP são negros

(O Estado de S. Paulo) Em cinco anos, os cursos de Medicina, Direito e Engenharia da Universidade de São Paulo (USP) – considerados de ponta – matricularam 77 alunos pretos. O número refere-se a 0,9% dos matriculados nas carreiras entre 2005 e 2011. Os dados de 2012 não estão disponíveis no site da Fuvest e a universidade não os forneceu. Preto é a terminologia usada pelo IBGE e pela USP para a cor da pele.

 

Anteontem, a Faculdade de Direito aprovou recomendação para que a USP adote o sistema de cotas raciais. A decisão será encaminhada ao Conselho Universitário, instância máxima da USP, a quem caberá discutir a adoção da medida. O conselho é, tradicionalmente, contrário à ideia de cotas. A USP entende que o sistema de bônus do Programa de Inclusão Social da USP (Inclusp), voltado a alunos de escola pública, independentemente da cor da pele, já atende as demandas por inclusão. O Inclusp foi adotado a partir de 2007.

Em 2012, a universidade matriculou 28% de alunos vindos de escolas públicas. No ano anterior, esse índice foi de 26%. Somente nos três cursos citados, 12% dos alunos matriculados em 2011 participaram do Inclusp.

A proporção de pretos e pardos, que em geral constituem os beneficiados das cotas, foi em 2011 de 13,4% – dos quais, 2,8% se declararam pretos. A proporção de 2011 é bem maior do que a registrada dez anos antes, por exemplo, mas ainda não reflete o perfil da população do Estado de São Paulo, que tem 34,6% de pretos e pardos. No Brasil, são 50,7%. Os resultados da USP ainda estão longe das reivindicações do movimento negro.

Pouco. O diretor da ONG Educafro, frei David Raimundo dos Santos, ressalta que o sucesso do programa de inclusão da USP tem de se refletir nos cursos mais tradicionais. “Se a USP consegue com o Inclusp colocar pretos em Medicina e Direito, nos demais também terá inclusão.”

Ao olhar para esses cursos, a situação é gritante. Desde 2006, apenas 12 alunos pretos entraram no curso de Medicina da USP. O melhor resultado foi em 2009 e 2007, quando cinco pretos conseguiram ser aprovados.

Em 2011 e 2010, nenhum aluno preto passou pela peneira do vestibular da Fuvest para Medicina. Os pardos responderam por 6,7% das matrículas em 2011.

Nas carreiras de Direito e Engenharia na Escola Politécnica, a situação é um pouco mais favorável. No Largo São Francisco, cuja congregação recomenda as cotas, apenas três pretos se matricularam em 2011. Somados os 40 pardos, a unidade alcança 7,6% de alunos com esse perfil, bem abaixo da média da USP.

Na Poli, os oito pretos que se matricularam em 2011 representam a maior proporção de público desse perfil desde 2006. Somando ao pardos, o índice foi de 7,1% na seleção de 2011.

De acordo com o diretor da Poli, José Roberto Cardoso, é remota a chance de a unidade debater as cotas, a exemplo do que ocorreu no Direito. “Nunca houve nenhum movimento para esse debate. O mérito para nós é fundamental, estamos muito satisfeitos com o Inclusp”, diz ele. “Temos estudantes negros, evidentemente são poucos. Mas não é culpa da Escola Politécnica. A inclusão não depende de cor, depende de ser de escola pública.”

Para o professor Elder Garnes, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), a ausência de mudança no perfil dos alunos, mesmo após o Inclusp, mostra que o sistema de inclusão não favoreceu a entrada do negro. “A USP sempre foi contra as cotas. É só ver que o Inclusp não serviu para incluir esse grupo”, afirma ele, membro da diretoria do sindicato de docentes (Adusp).

A reportagem procurou a Faculdade de Medicina, mas o diretor não foi encontrado. A reitoria informou que não seria possível entrevistar o reitor João Grandino Rodas sobre o tema. 

Acesse em pdf: Em 5 anos, só 0,9% dos matriculados em cursos de ponta da USP são negros (O Estado de S. Paulo – 02/06/2012)

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