Demandas das mulheres estão ausentes dos debates políticos

23 de setembro, 2014

(Tainah Fernandes/Agência Patrícia Galvão, 23/09/2014) A pesquisa ‘Trabalho Remunerado e Trabalho Doméstico’, realizada pelo Instituto Patrícia Galvão em parceria com Data Popular e SOS Corpo em 2012, identificou as principais demandas que as mulheres brasileiras consideram primordiais para uma melhor qualidade de vida e condições adequadas para sua participação no mercado de trabalho e acesso à educação.

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As demandas destacadas são: serviços de saúde mais eficientes (97%), transporte público mais eficiente (88%), escolas em tempo integral para os filhos (83%), parques gratuitos (76%), creche (75%) e restaurantes populares (64%).

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Apesar de algumas dessas demandadas constarem nos planos de governo de alguns candidatos, as mesmas não são abordadas ou discutidas em debates na mídia ou nas propagandas eleitorais. E, quando mencionadas, os candidatos e candidatas o fazem de maneira genérica, apresentando planos gerais de governo. Como comenta Sônia Coelho, da Marcha Mundial das Mulheres, “as nossas campanhas eleitorais não discutem a política e os problemas políticos reais da nossa sociedade. Acaba ficando naquela discussão de temas gerais, como corrupção. É um problema que tem a ver com a forma como se organiza a campanha. Não tem a disputa programática, o debate programático. Não é focado no eleitor.”

Já para a pesquisadora Silvia Camurça, do SOS Corpo – Instituto Feminista para a Democracia, apesar de considerar que esses temas deveriam ser explorados com mais especificidade, as demandas e preocupações das mulheres estão contidas nos discursos dos presidenciáveis. “As demandas das mulheres, nos planos dos serviços públicos, estão sendo debatidas através da disputa de concepção de Estado e do papel dos governos junto aos serviços públicos”, afirma. Segundo a pesquisadora, os problemas das mulheres não deixam de ser problemas sociais e elas conseguem identificar as ações específicas de acordo com o discurso de cada candidato. “As mulheres percebem as propostas das demandas nos programas políticos. Se discursarem que o Estado deve ser mínimo, elas vão entender que esse candidato não vai investir em serviços públicos para ela”, diz Silvia.

Dentre as demandas e preocupações citadas pelas mulheres, a única ou percebida mais claramente em nossa sociedade hoje é o direito à creche, mas segundo Sônia Coelho, esse direito foi alcançado – embora não seja atendido satisfatoriamente por governos e empresas – depois de muitos anos em que o assunto foi pautado por ativistas, “mas sempre como direito da criança, nunca pela discussão do direito das mulheres e da responsabilidade que as mulheres têm hoje com os trabalhos domésticos e de cuidados”, diz ela.

Para a pesquisa, foram entrevistadas 800 mulheres de nove capitais brasileiras, além de Brasília, com idade entre 18 e 64 anos e que possuíam algum tipo de trabalho remunerado. A pesquisa foi realizada entre os dias 29 de junho de 2012 e 7 de julho de 2012.

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