“Prazer. Meu nome é Betânia e eu sou uma robô feminista até o último código”. É assim que se apresenta, no chat de mensagens do Facebook, uma ferramenta criada para alertar sobre ações políticas contra direitos das mulheres. Desenvolvida pela organização feminista “Nossas”, a Beta foi lançada em 28 de agosto e, desde então, já atingiu 51 mil pessoas diretamente.
(Metro, 08/01/2018 – acesse no site de origem)
O modo de funcionamento é simples. Para encontrar a robô, basta acessar sua página na rede social. Ao clicar em “enviar uma mensagem”, automaticamente a Beta fica disponível para conversa. A partir daí, é possível interagir com o código de programação, fazendo perguntas e sendo alertado sobre campanhas.
A primeira e a mais bem sucedida ação desenvolvida pela Beta, por exemplo, foi contra a PEC (Proposta de Emenda Constitucional) 181, que quer proibir o aborto em todos os casos, até mesmo de violência sexual (hoje autorizado). A Beta disparou alertas na caixa de mensagens de todos que já haviam iniciado uma conversa, propondo que e-mails fossem enviados aos deputados para pressionar contra a votação – adiada no Congresso.
Por meio da Beta, ao todo 35 mil e-mails foram enviados a parlamentares. A robô também começa a se mobilizar contra outras duas propostas que aguardam avaliação do Congresso: a PEC 29, que proíbe o uso da pílula do dia seguinte, entre outros métodos anticoncepcionais; e o Estatuto do Nascituro, projeto que prevê que o aborto, em todos os casos, seja considerado crime hediondo.
“A Beta tem uma capacidade de mobilização muito grande. É um canal que pode influenciar as decisões políticas. A ideia é estimular que as mulheres se unam para não ficarem sozinhas”, explica a coordenadora do projeto, Laura Molinare.
Como funciona
A Beta é programada para reconhecer perguntas e responder a padrões estabelecidos. Quando não reconhece algo que foi perguntado, pede desculpas e diz que ainda é uma “robô aprendiz”.
Nem sempre as perguntas feitas ao protótipo, contudo, são sobre ações políticas, como é o objetivo. “No começo, tinha uma curiosidade muito grande, as pessoas perguntavam sobre várias coisas, queriam informações sobre o que era feminismo”, conta Laura Molinare.
As novas demandas, inclusive, motivaram uma ligeira mudança no perfil da ferramenta, quando os organizadores perceberam que havia uma lacuna social a ser preenchida. “Muita gente pergunta sobre medidas protetivas, o que fazer em casos de violência doméstica e estupro. Então separamos um tempo para treinar a Beta a responder essas pessoas também”, explica Laura.
Futuro
Para 2018, o Nossas planeja mais campanhas políticas. Já entraram no radar propostas que circulam no Congresso, como a de uma criação de uma “CPI do aborto” e possíveis alterações na Lei Maria da Penha. “Vai ser difícil porque é ano eleitoral, mas queremos aproveitar para trazer a pauta dos direitos das mulheres”, garante a coordenadora do projeto.
Fabiane Guimarães