Sob pressão, Câmara de SP tira palavra ‘gênero’ de plano de educação

11 de junho, 2015

(Folha de S. Paulo, 11/06/2015) A reunião deveria discutir questões como verba para a educação e custo por aluno na rede municipal de São Paulo. Virou, porém, uma disputa polarizada entre defensores da “família tradicional” e defensores da diversidade.

O motivo da discórdia na comissão de Finanças e Orçamento da Câmara, nesta quarta (10), foram trechos do Plano Municipal de Educação que preveem mecanismos para denunciar casos de violência e discriminação por etnia, deficiência, religião e, também, gênero.

Religiosos, inclusive Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo, viram no plano uma tentativa de anular a diferença entre meninos e meninas.

Os idealizadores negam, mas, em meio à discórdia, os vereadores da comissão de Finanças acabaram retirando trechos com as expressões “gênero”, “orientação sexual” e “sexualidade”.

Grupos exibem cartazes e debatem partes do Plano Municipal de Educação durante reunião na Câmara Municipal de SP

Grupos exibem cartazes e debatem partes do Plano Municipal de Educação durante reunião na Câmara (Foto: Luiz França/CMSP)

Se no plano de mais de 50 páginas a expressão “gênero” aparecia oito vezes, agora não aparece em nenhuma.

Dom Odilo divulgou uma carta em que critica a chamada “ideologia de gênero”, que entende as crianças como “neutras”, sem divisão de feminino ou masculino, que só seriam definidos mais tarde.

Na carta, Scherer diz acompanhar a tramitação do plano na Câmara, fala em “perplexidade e preocupação” e que “as consequências de tal distorção antropológica na educação poderão ser graves”.

“Quero saber: onde está a ideologia de gênero no nosso plano? Onde está escrito que vamos tratar meninos e meninas do mesmo jeito?”, disse Toninho Vespoli, vereador do PSOL e relator da comissão de Educação. “Acredito que a maioria não leu.”

A Folha leu a íntegra do relatório, mas não identificou nenhuma menção à chamada “ideologia de gênero”.

O relatório acabou rejeitado pela comissão de Finanças. No plenário, protestos, vaias e manifestações.

De um lado, dezenas de jovens com crucifixos pendurados no pescoço, padres e freiras. De outro, grupos cantavam “homofobia, não!”.

“O pessoal fundamentalista começou a participar das reuniões da comissão de Finanças. Então, viemos também”, disse a educadora Adriana Souza, 41.

“Existe intromissão exagerada do Estado, com viés ideológico”, disse João Bechara Ventura, 31, padre da paróquia São Vito, no Brás, no centro de São Paulo.

“Não venham aqui gritar contra a família”, disse o vereador Adilson Amadeu (PTB). Jair Tatto (PT) também pediu a exclusão do tema do plano e disse ser uma orientação da bancada petista.

Paula Sperb

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