Mais mulheres na economia pode ser um bom negócio, diz Diretora Executiva do ITC

11 de maio, 2015

(Valor Econômico, 11/05/2015) Quando participar nesta semana do “Global Summit of Women”, em São Paulo, a diretora ­executiva do Centro de Comércio Internacional (ITC, na sigla em inglês), Arancha Gonzalez, vai insistir em uma clara mensagem: maior participação das mulheres na economia é realmente um bom negócio. Além disso, defenderá que os governos estabeleçam que uma fatia das compras públicas seja feita junto a pequenas e médias empresas (PMEs) de empreendedoras.

Essa espanhola de 45 anos é fluente em inglês, francês, alemão, italiano, espanhol e basco. Foi chamada de sacerdotisa do livre comércio pelo jornal “Le Monde” quando era a chefe de gabinete do então diretor da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy, pela convicção sobre os ganhos com abertura comercial pelas negociações multilaterais.

Agora, no comando do ITC, se tornou uma das lideranças no que diz respeito à importância econômica do empoderamento das mulheres. O ITC é uma agência de desenvolvimento criada há 50 anos pelas Nações Unidas e pela OMC para ajudar PMEs e governos a melhorarem as possibilidades de negócios.

“A participação das mulheres na economia não é só questão de equidade, justiça e dignidade, mas também uma questão econômica”, diz ela, citando diferentes estudos que apontam ganhos para as empresas e para a sociedade. “Não se trata de ter mais mulheres (nas diretorias) porque uma diretiva governamental diz que isso é preciso. Estamos descobrindo que as empresas cotadas na Bolsa que têm mais mulheres em suas diretorias conseguem melhores resultados financeiros”, afirma.

Além disso, segundo Arancha, a mulher investe 90% de sua renda em sua família e em sua comunidade, comparado com 45% a 50% no caso dos homens. “Nossa experiência mostra que cada US$ 1 investido em uma empreendedora equivale a US$ 7 em educação, saúde e alimentação”, diz.

O tema da inclusão da mulher na economia chama cada vez mais atenção. O Credit Suisse, um dos maiores bancos da Europa, reuniu dados de mais de três mil companhias em 40 países, focando a mistura de gêneros na gestão. E tem mais questões do que respostas. “Melhores companhias contratam mais mulheres, mulheres escolhem trabalhar em empresas mais bem ­sucedidas ou as próprias mulheres é que melhoram o desempenho das companhias? Provavelmente a resposta é a combinação dos três fatores”, diz o banco.

A diretora do ITC lembra que a Declaração de Pequim completou 20 anos, pela qual todas as nações se comprometerem a buscar maior igualdade de gênero. “Trabalhou-­se muito em educação, combate a violência, participação política e, agora, na participação das mulheres nos conselhos de administração. Mas não houve muito avanço na capacitação empresarial da mulher”, enfatiza.

Ela aponta duas maneiras pelas quais o ITC tenta ampliar a participação das mulheres na economia. No lado dos governos, o objetivo é garantir, em uma licitação, que uma fatia das compras seja reservada para PMEs controladas por mulheres. Segundo Arancha, os EUA têm isso, graças ao ex­-presidente Bill Clinton, e mais governos vão nessa direção. “Estamos atuando com vários países para ajudar a mudar suas legislações”, diz. As compras públicas representam de 10% a 15% do PIB de países desenvolvidos e mais de 30% nos países em desenvolvimento. “Esse segmento oferece uma ocasião única, fiscalmente responsável para capacitar as mulheres na economia.”

Arancha crê também na força do mercado para ajudar as mulheres empresárias ­ o ITC trabalha para melhorar o acesso ao financiamento para elas. Existem muitos programas de microfinanciamento de US$ 1 mil para mulheres, por exemplo, mas para as PMEs é mais difícil, pois em muitas ocasiões os bancos consideram que é um empréstimo arriscado. “O ‘due diligence’ é mais custoso. Em alguns países, mulheres não podem ter credito sem autorização do marido”, diz.

O ITC busca também compromissos das empresas que fazem parte de cadeias globais de valor para abrir espaço para o fornecimento por empresas de mulheres ­ e ajuda a capacitar empresárias. Em projetos na Mongólia e Etiópia, por exemplo, levou escolas de design de Londres e Nova York para ensinar como usar melhor a lã e o algodão, além de técnicas de desenho ­ para fazer com que seu produto não seja apenas exótico.

Para Arancha, o Brasil pode ser um dos líderes globais na participação feminina na economia. Ela nota que as PMEs representam 60% do tecido industrial do Brasil, 20% do PIB e 50% do emprego no país.

Na cúpula de São Paulo, que acontece entre os dias 14 e 16, no Grand Hyatt São Paulo, a diretora executiva do ITC vai detalhar uma plataforma para ajudar empresárias a se conectarem com o mercado. A agência tem catalogadas 15 mil empresas de mulheres que vendem e grandes empresas que compram. Em setembro, haverá um encontro específico sobre essa iniciativa, também na capital paulista.

Assis Moreira

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