(Folha de S.Paulo) Há pelo menos meio século o movimento feminista defende que homens e mulheres com a mesma qualificação recebam remuneração similar no mercado de trabalho.
Apesar de antiga, a reivindicação continua muito distante da realidade no Brasil. Pior, houve até retrocessos nos últimos anos, como mostra reportagem publicada ontem pelo jornal “Valor Econômico”.
Em 2012, de acordo com dados do Ministério do Trabalho, mulheres com mestrado ganharam em média R$ 4.827, ao passo que homens com as mesmas credenciais receberam R$ 7.241, diferença de 50%. Em 2007, a remuneração do contingente masculino, dado esse mesmo nível acadêmico, era 35,3% maior que a do feminino.
Também entre profissionais com doutorado houve aumento da desigualdade salarial. Se em 2007 homens recebiam 21,5% a mais que mulheres, em 2012 perceberam vencimentos 27,2% maiores.
Entre quem tem ensino superior completo, a diferença até diminuiu, mas segue abissal. De quase 78% maior em 2007, a remuneração masculina foi 65,7% superior à feminina no ano passado.
Não se trata, segundo especialistas em questões de gênero, de exclusividade brasileira. Mesmo que tenham as mesmas qualificações de um homem, mulheres de todo o mundo sofrem para chegar a cargos de comando nas empresas privadas, responsáveis pelo pagamento dos melhores salários.
Por mais que invistam em seu aprimoramento acadêmico e profissional, em algum momento da carreira as mulheres ainda esbarram em preconceito no ambiente corporativo. Postos de chefia exigiriam aptidão para liderança e afinidade com tecnologia que, de acordo com uma visão retrógrada, são incompatíveis com a personalidade feminina.
Como se quebrar estereótipos dessa natureza já não fosse dificuldade suficiente, as profissionais que optam pela maternidade precisam lidar com outro desafio: conciliar a criação dos filhos –tarefa ainda preponderantemente vista como da mãe– com a rotina mais atribulada de quem ocupa cargos executivos.
Posto o dilema, muitas mulheres optam por uma solução de meio-termo. Permanecem no mercado de trabalho, mas em setores ou ocupações que compensam a remuneração menor com uma rotina mais flexível.
O século 21 avança, mas não a igualdade de gêneros. Esta, de forma lamentável, permanece vítima de uma mentalidade que insiste em se reproduzir em muitos ambientes domésticos e profissionais.
Acesse o PDF: Gêneros salariais (Folha de S.Paulo, 07/01/2014)