Como comunicar a gravidez no local de trabalho

18 de agosto, 2016

(Folha de S.Paulo, 18/08/2016) Comunicar a gravidez no local de trabalho não deveria ser motivo para insegurança ou apreensão entre as mulheres. Infelizmente, alguns gestores mudam de comportamento com a funcionária depois que ela comunica que está grávida.

Foi isso o que aconteceu com a diretora jurídica P.E., 35 anos, mãe de duas meninas _uma de 3 e outra de 6 anos. Ela foi transferida de um projeto de destaque em uma multinacional assim que avisou a chefia sobre sua gestação.

Segundo ela, o trabalho dos seus sonhos foi parar nas mãos de um colega do sexo masculino. O projeto foi premiado, o colega ficou com todos os créditos e ela não recebeu nenhum reconhecimento pelo trabalho.

“Fiquei frustrada pelo fato de o projeto ser transferido para um colega que tinha acabado de entrar na empresa pelo simples fato de eu estar grávida”, diz P., que pediu para não se identificar.

“Fiquei com sensação ruim, de algo que foi tirado de mim. Entendo que eu sairia de licença, mas poderiam ter reconhecido minha participação de alguma forma. Foi meio como se fosse uma punição por eu ter ficado grávida, por ficar de licença.”

O relacionamento com alguns colegas também mudou. “Além de tirarem a minha posição naquele trabalho, ainda fiquei com medo de perder o espaço que levei anos para conquistar quando retornasse da licença-maternidade”, relata a advogada.

A executiva ainda ficou mais alguns anos nessa empresa antes de trocar de emprego. Quando  ficou grávida da segunda filha, fazia seis meses que ela havia feito a mudança de companhia.

“Fiquei muito nervosa, tinha acabado de entrar na empresa. Fiquei alguns dias sem dormir pensando em como ia contar”, diz a advogada.

Ela tinha dois chefes, um brasileiro e um americano. “Com o brasileiro foi tranquilo. Com o americano, deu pra sentir que ele não gostou. Senti cinismo e hostilidade na sua voz. É uma coisa muito velada, nunca é escancarada. Mas ele não foi bobo de falar nada, pois sabe que não pode fazer discriminação.”

Para a advogada, o principal problema é a forma como as empresas diferenciam homens de mulheres quando o assunto é família.

“O mundo do trabalho é injusto e cruel para as mulheres. As mães sofrem uma pressão que os homens não sentem. A mulher fica grávida, mas o filho  e as responsabilidades são dos dois. Falta as empresas se conscientizarem e tratarem os dois a mesma forma. A mulher avisa o chefe que está grávida e recebe uma cara de desânimo. O homem fala que vai ser pai e todo mundo fica feliz.”

Apesar da implicância do chefe americano, P. não perdeu o emprego. Mas afirma que no mundo ideal ela não deveria ter ficado noites sem dormir com medo de dar a notícia da gravidez aos chefes.

“Eu não precisava ter sofrido tanto. Hoje não perderia nenhuma noite de sono com essa preocupação. Mas também não me imagino com uma carreira executiva em uma multinacional com três filhos. Essa é uma preocupação que os homens não têm”, afirma ela.

Como dar a notícia da gravidez ao chefe então? A analista comportamental e coach Tayná Leite diz que neste momento, menos é mais. “Basta um comunicado simples: ‘Estou grávida, esta é a previsão de parto’ e basta.”

Segundo ela, não existe um momento ideal para fazer o anúncio –o que importa é que aconteça quando a gestante se sentir confortável para compartilhar a notícia.

Se a funcionária ainda não estiver grávida, mas tiver tomado a decisão de engravidar, não é necessário antecipar o desejo de aumentar a família para os colegas do escritório.

“Além de ser muito pessoal, tentar engravidar não é sinônimo de conseguir”, aconselha. “Além disso, a mera informação de estar com a intenção de engravidar já pode trazer prejuízos para a profissional, que muitas vezes pode ser excluída de projetos e desconsiderada para promoções, sendo duplamente penalizada.”

Para quem chefia uma mulher grávida, Tayna recomenda ter compreensão “A gravidez de uma mulher é um evento ainda erroneamente tido como individual –como se fosse só dela a responsabilidade por aquela crianç – e isso dificulta muito o jogo”, conclui a analista comportamental.

Fabiana Futema

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