Empresa inclusiva deve ter mais lucro

09 de agosto, 2016

(Valor Econômico, 09/08/2016) Nas próximas duas décadas, as empresas com poder de gerar valor social, capazes de incorporar a igualdade e mais inclusivas, serão as maiores e, portanto, mais lucrativas. Esta mensagem foi comum aos discursos do professor Muhammad Yunus, indiano laureado com o Prêmio Nobel da Paz em 2006, e Nadine Gasman, representante da ONU Mulheres Brasil, no evento Beyond The Games Global Summit, realizado em 4 de agosto pela Casa Rio, um dia antes da abertura dos Jogos.

Autor de livros como “Um mundo sem pobreza”, o indiano Yunus, conhecido internacionalmente por suas iniciativas em negócios sociais, afirmou não ser contra o lucro. Mas ele ressaltou que o problema é o pensamento de reter o lucro, em vez de fazê­lo circular para resolver problemas sociais. Na visão do professor, o ser humano nasceu para empreender e tem uma capacidade extraordinária de buscar soluções.

Fundador do Grameen Bank, que empresta dinheiro (microcrédito) para pessoas que não teriam acesso a capital em bancos comerciais convencionais, Yunus está à frente da Yunus Social Business, uma organização global, presente em oito países, inclusive Brasil.

Fundado há três anos, o Yunus Negócios Sociais Brasil desenvolve atualmente projetos com cinco empresas e presta consultoria para outras três. Rogério Oliveira, parceiro do professor Yunus no Brasil, diz que os projetos de negócios sociais estão em curso na Ambev, na Cosan, no Bank of America, na Randstad e no Mattos Filho Advogados.

“O trabalho da aceleradora, em curso nessas cinco organizações, ajuda a desenvolver uma nova empresa que funcionará como negócio social, com a meta de resolver algum problema no país. Entendemos o que cada empresa faz muito bem, o que está no seu core e, a partir daí, podemos mapear problemas sociais que ela poderá resolver”, explicou Oliveira.

O programa de consultoria não está relacionado necessariamente a negócios sociais. A Yunus Negócios Sociais Brasil também atua no segmento de educação, a exemplo da Yunus Social Business. Oliveira contou ao Valor que a Yunus Negócios Sociais apoia mais de 20 universidades no Brasil a criar cursos com matérias relacionadas ao empreendedorismo social.

“Muitas dessas universidades, como FGV, ESPM e FEA, têm aceleradoras, que capacitamos para fazer mentoria de negócios sociais. Estamos iniciando um trabalho também na educação fundamental, aqui o objetivo do diálogo com escolas não é ensinar o negócio social, mas transmitir uma outra lógica de negócios, em que todos ganham”, completou.

Ainda sob a temática da inclusão, Nadine Gasman alertou que reduzir a desigualdade de gênero pode acrescentar US$ 12 trilhões ao PIB mundial em 2025 ou até US$ 28 trilhões em um cenário mais otimista, segundo uma pesquisa divulgada em maio pela Mckinsey Women Matters.

“Mulheres tomam decisões sobre o que comprar. Então, se as empresas excluem as mulheres, estão perdendo metade do mercado e da capacidade criativa. Números da Mckinsey provam que empresas mais diversas são mais inovadoras”, afirmou.

Segundo Nadine, a meta da ONU Mulheres é atingir a igualdade no mercado de trabalho em 2030. No entanto, números ainda preocupam. Ela destacou que, globalmente, mulheres dedicam mais que o dobro do tempo a trabalhos domésticos e não remunerados do que os homens.

“Nos países da América Latina e Caribe que dispõem de medições do uso de tempo, as mulheres destinam entre duas a cinco vezes mais tempo a esses trabalhos. No Brasil, chega­se a quatro vezes mais que o tempo dedicado por homens”, completou.

A convite do Comitê Olímpico Internacional (COI), a sub-secretária­geral das Nações Unidas e diretora executiva da ONU Mulheres, Phumzile MlamboNgcuka, participa dos Jogos Olímpicos Rio 2016 em apoio ao empoderamento das mulheres e meninas pelo esporte

Susana Liskauskas

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