Mulheres ganham até menos de um quinto do que homens na seleção

03 de outubro, 2017

O abismo financeiro entre jogadores da seleção brasileira masculina de futebol e feminina não fica restrito apenas ao salário dos clubes. Com a camisa verde e amarela, a diferença também é grande.

(Folha de S.Paulo, 03/10/2017 – acesse no site de origem)

Os homens ganham R$ 500 por dia da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) durante os treinos enquanto as mulheres recebem metade desse valor. A diferença é maior quando os jogos são realizados fora do país. A diária masculina é em dólar e chega a R$ 1.600, em valores convertidos, enquanto as atletas recebem o mesmo, de R$ 250.

O último reajuste na diária do time feminino foi em 2013.

“Quantas vezes vão acontecer vários pedidos e ninguém vai escutar. Cansei de pedir. São detalhes que mudariam algumas coisas. É muito fácil ir na televisão, bater no peito e dizer que dão todo suporte que a gente precisa, mas tem coisas que são erradas. Por favor, melhorem essa diária de R$ 250 que as meninas recebem. Estamos há anos recebendo a mesma diária”, escreveu a atacante Cristiane, 32, ao anunciar que não defenderia mais a seleção.

A zagueira Andrea Rosa, 33 outra que desistiu de atuar pela equipe nacional também cita a diferença nos valores. “Sabemos que o masculino tem um apoio maior por tudo o que conquistaram, mas nem quando ganhamos duas vezes a medalha de prata na Olimpíada e outra no Mundial essa situação mudou”, disse a atleta.

Nesta segunda, mais uma jogadora informou que não quer atuar pela seleção brasileira. Mauriene é a quinta a pedir para não ser chamada, desde a demissão da técnica Emily Lima, em setembro.

“A diária não tem uma representação salarial. É mais uma ajuda de custo que damos”, afirma Marco Aurélio Cunha, coordenador técnico da seleção feminina.

O futebol masculino é responsável pela maior parte das receitas da CBF. No último balanço, publicado no ano passado, a entidade informou ter arrecadado R$ 570 milhões com patrocínios, direitos de transmissão e renda de jogos da equipe.

No balanço, o futebol feminino entra apenas nas despesas junto com as equipe de base. Segundo o documento, a entidade gastou R$ 48 milhões em 2016 com os dois setores -menos a metade do investido na equipe masculina (R$ 98 milhões).

“Exatamente porque o masculino tem toda essa visibilidade, a CBF tem que olhar para o feminino. Como capta muito, tem que utilizar uma parte para alavancar o feminino. Quando vai ter visibilidade? Quando vai ter um patrocínio forte? É uma seleção. Elas representam o país. O mínimo que tem que ter é igualdade de condições”. disse Silvana Gorllner, coordenadora do Centro de Memória do Esporte da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul).

“Se você for no Museu da CBF não tem praticamente nada da equipe feminina. A única coisa que existe é a braçadeira da Formiga de um torneio”, completa.

O CT da CBF, em Teresópolis, é usado por equipes femininas. Quando houve coincidência de datas com preparação da seleção masculina no local, que tem 36 quartos, as mulheres foram realocadas em hotéis da cidade.

SELEÇÃO AMERICANA

A seleção feminina de futebol dos Estados Unidos recebeu aumento nos salários e bônus por objetivos alcançados, além de melhores condições de viagem e acomodações, após apresentarem queixa formal às autoridades do país contra a US Soccer, a federação de futebol.

O novo acordo, cujos valores não foram divulgados, foi acertado em 2017 após um ano de negociações e tem duração até 2021. Estará vigente no Mundial da França-2019 e nas Olimpíadas de Tóquio-2020.

Antes da reivindicação, as jogadoras americana tinham contrato de trabalho com a US Soccer e recebiam em torno de US$ 72 mil por ano.

Segundo as atletas, mesmo com um bônus por performance, elas ganhavam menos do que os integrantes do time masculino, pagos apenas quando convocados.

Na oportunidade, um jogador recebia US$ 5.000 em caso de derrota em amistoso, mas poderia receber até US$ 17.625 por uma vitória sobre uma seleção vista como potência da modalidade, de acordo com o jornal “The New York Times”.

Em comparação, uma mulher faturava US$ 1.350 por partida, mas só em caso de vitória. Nas derrotas, nada.

A reivindicação foi feita em março de 2016 pelas meio-campistas Carli Lloyd e Megan Rapinoe, a zagueira Becky Sauerbrunn, a goleira Hope Solo e a atacante Morgan.

Elas tomaram a decisão após descobrirem que o time feminino gerou US$ 20 milhões a mais em receitas para a federação do que a equipe masculina em 2015.

As atletas apontaram que os jogos da seleção feminina têm audiência de TV superior aos da masculina, além de possuir melhor média de público no estádio e melhores resultados. Elas são tricampeões mundiais e tetracampeãs olímpicas.

Já os homens têm como melhor resultado a terceira colocação na Copa de 1930.

FIFA

Desde 2015, a Fifa cobra um tratamento mais igualitários para o futebol feminino.

No ano passado, a entidade escolheu, pela primeira vez, uma mulher para o cargo de secretário-geral, o segundo posto da Fifa. Trata-se da senegalesa Fatma Samba Diouf Samoura, que trabalhava em programas da ONU.

Luiz Cosenzo e Sérgio Rangel

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