(Jornal de Brasília, 05/02/2015) Unidades atendem a demanda de 10,5 mil alunos, mas há mais de 27 mil candidatos
Por falta de vagas, pelo menos 16,4 mil crianças devem ficar fora das creches públicas do Distrito Federal neste ano. De acordo com a Secretaria de Educação, as atuais 94 unidades atendem a demanda de 10,5 mil alunos. Porém, a lista de espera, até o último dia 19, já era de 27,6 mil crianças de zero a cinco anos. Ou seja, 62% devem ficar de fora. A situação causa revolta em mães que não têm com quem deixar os filhos para poder trabalhar.
“No ano passado, tentei por duas vezes uma vaga para os dois pequenos. Não consegui para nenhum. Por conta disso, continuo parada em casa. Até tento um bico ou outro, mas queria um trabalho fixo, que fica impossível de assumir com os dois em casa. Toda vez que vou, dizem para eu ligar para o 156, ir na Regional do Guará e aguardar. Mas nada acontece”, conta Sebastiana Felipe de Sousa, de 38 anos.
Moradora da Estrutural, ela reclama que uma das justificativas para a ausência de vagas é a idade dos filhos, menores de três anos. “Eles dizem que perto de casa não tem creche para crianças com menos de três anos. Isso é revoltante, porque o que diziam nas propagandas e tudo mais é que tem. Só não vejo onde tem aqui perto. Eu e mais um monte de mães”, desabafa.
Sem saída
E a afirmação, de fato, pode ser confirmada em uma rápida passagem pela Estrutural, uma das regiões do DF que não possuem centros de Educação da Primeira Infância (Cepis). No local, há apenas creches conveniadas. Na Chácara Santa Luzia, a maior parte das mães assegura que não consegue vaga. Diante da realidade, o jeito é ficar em casa com os pequenos.
Este é o caso de Luzileide Nunes Xavier, de 32 anos. Com três filhos, ela não consegue uma creche para o menor, de dez meses. “Fui à Regional do Guará, e me disseram que ele vai ficar na fila de espera, porque não tem vaga. Aí, assim, vou esperar, né? Mas, acho difícil conseguir com essa coisa de fila de espera. Eles mesmos nem dão muita esperança. Para o de cinco anos, demorei dois anos até conseguir”, relata.
Agora, a ideia de oferecer serviços domésticos vai ter de esperar, conta a dona de casa. “Meu plano era começar a trabalhar agora. Mas pelo jeito vou ter que deixar para depois. É complicado, porque a gente não pode levar a criança para o trabalho”, salienta.
Governo prevê atender mais 2,5 mil
Segundo a Secretaria de Educação, a previsão para este ano é atender mais 2,5 mil crianças. Está dentro do programa do Governo do Distrito Federal a ampliação do atendimento da Educação Infantil. Para isso, informou o órgão, 112 centros de Atendimento da Primeira Infância (Cepis) estão em andamento, no padrão Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). Atualmente, 35 estão em obras – 12 prontos e sem mobílias -, e mais 51 em processo de licitação.
Enquanto outras unidades não ficam prontas para atender a demanda, outra opção que resta às famílias é pagar por uma creche privada. Pelo menos foi isso que fez a costureira Ildene Rosa de Jesus, de 50 anos. Para não deixar a neta Ana Luísa, de dois anos, fora da escolinha, ela e a filha pagam R$ 200 mensais em um maternal próximo de casa.
“Nós pesquisamos uma escola do GDF, mas ia ser muito demorado o processo. Aí, preferimos não sofrer muito e pagar logo. É claro que esse dinheiro faz falta, porque R$ 200 para uma família pobre é um valor que dá para comprar leite, comida, fralda, tudo o que Ana Luísa ainda precisa. Mas a mãe dela precisa trabalhar e eu também. Então, essa foi a solução”, explica a costureira.
Carla Rodrigues
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