(O Globo, 08/10/2014) Com 80 deputados federais eleitos, a bancada evangélica na Câmara crescerá 14% a partir do ano que vem. Hoje, tem 70 representantes, entre bispos, pastores e seguidores de igrejas. O aumento, ainda que menor que os 30% esperados pela Frente Parlamentar Evangélica, deverá tornar ainda mais difícil a aprovação de projetos ligados a causas de homossexuais ou em defesa do aborto. (Veja aqui o infográfico com os evangélicos eleitos para a Câmara)
São Paulo, o maior colégio eleitoral do país, e Rio de Janeiro, o terceiro, elegeram a maior parte dos candidatos evangélicos: cada um dos estados terá 14 deputados. O Paraná vem em seguida, com oito.
Ao todo, 39 deputados federais que hoje integram a Frente Parlamentar Evangélica não se reelegeram, mas alguns conseguiram fazer de parentes seus sucessores. No Rio, por exemplo, foi eleita Clarissa Garotinho (PR), filha de Anthony Garotinho, com 335.061 votos. Ela se tornou a campeã de votos entre os deputados evangélicos. Entre os novatos, vários são apadrinhados por nomes de peso dentro de suas igrejas. É o caso de Sóstenes Cavalcante (PSD-RJ), que contou com o apoio do pastor Silas Malafaia em sua campanha.
Malafaia se gaba por influenciar parlamentares no Congresso Nacional:
— Dou cidadania há 28 anos, ensino como é o voto. Falo para o pessoal que é o voto da representação do segmento. Converso com esses caras e com vários deputados que não contaram com minha participação na campanha, que, mesmo assim, ligam para mim, agradecendo.
Um dos líderes da bancada, o deputado reeleito Eduardo Cunha (PMDB-RJ), autor do projeto de lei que pune discriminação contra heterossexuais, diz que lutará para impedir uma ampliação de direitos de homossexuais:
— A minha posição é clara. Eu sou contra projetos de lei progressistas. Uma grande parcela da sociedade, diria que a maioria, concorda comigo. Não vejo nada de mais.
Segundo o cientista político e professor da Universidade de Brasília (UnB) David Fleischer, a bancada evangélica é “bastante organizada” e deve repetir a performance dos últimos quatro anos na Câmara, alternando vitórias e derrotas:
— É uma bancada que tem uma liderança e um apoio forte, apesar de reunir seitas bem diferentes. A Igreja Universal ainda é maioria. As igrejas evangélicas têm mais sucesso ao induzir fiéis a votar em pastores e bispos.
Carina Bacelar e Cleide Carvalho
Acesse o PDF: Bancada evangélica cresce 14% e deve prejudicar causas LGBT (O Globo, 08/10/2014)