(Agência Brasil, 29/01/2015) Mostrar que transexuais e travestis são cidadãs e cidadãos e têm os mesmos direitos de todos. Esse é o objetivo da ação educativa Respeitar É… Reconhecer que as Pessoas São Diferentes e ao Mesmo Tempo Iguais em Direitos, lançada hoje (29) – Dia Nacional da Visibilidade Trans – pela Secretaria de Estado de Assistência Social e Direitos Humanos do Rio de Janeiro e pelo Conselho de Direitos da População LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e travestis) do estado.
Estrelam a campanha 18 transexuais e travestis, homens e mulheres, para mostrar que são cidadãs e cidadãos de direitos, ocupam cargos profissionais e têm suas preferências cotidianas. São musicistas, professores, escritores, gestoras, militares e cantoras, que foram voluntários na primeira iniciativa de promoção da visibilidade trans no Brasil.
Uma das modelos da campanha é a cantora e atriz Jane Di Castro. Apesar de ainda ser vítima de transfobia, ela diz que os direitos foram muito ampliados nas últimas décadas. “Eu venho de uma geração dos anos 1960, peguei a ditadura militar, uma época de muita repressão. Hoje falo para as minhas amigas novinhas: vocês vivem num paraíso, porque eu sofri muito naquela época, eu andava vestida de mulher na rua e ia presa, não podia. Eu enfrentava, sempre fui uma ativista, mas na minha época não tinha discurso, não tinha um microfone para reclamar, se fosse na polícia reclamar de agressão ficava presa. Hoje você tem um grupo que te apoia, tem a quem reclamar, aonde ir, você é protegida, as leis protegem.”
Os cartazes, folders e banners da campanha serão distribuídos em escolas, unidades de saúde e delegacias de todo o estado. O superintendente de Direitos Individuais, Coletivos e Difusos da secretaria, Cláudio Nascimento, destaca que essa parcela da população sempre foi marginalizada e estereotipada, e a campanha mostra as trans numa perspectiva de pessoas detentoras de direitos.
Ele afirma que a questão precisa ser debatida pela sociedade e não acredita que possa haver polêmica na distribuição das peças publicitárias nas escolas. “Não vai gerar polêmica, porque o material é muito sensível, muito digno. Cada uma ofereceu sua imagem gratuitamente para compor a campanha, mostrando quem são elas como cidadãs, o que gostam de fazer no seu cotidiano, a profissão que têm, então é muito digno o material, não vai gerar essa polêmica toda não. Pelo contrário, acho que vai ajudar a sociedade a debater de forma mais sensível, afetiva e respeitosa essa temática.”
Para a conselheira Mariah Rafaela, a iniciativa tem fundamental importância para reverter o quadro de exclusão e violência vivido pela população trans no Brasil. “É uma necessidade que o Conselho enxergou, de promover uma conscientização social em relação especificamente às mulheres transexuais, a partir de uma demanda que surgiu na internet, no carnaval do ano passado, quando algumas começaram a ser vítimas de transfobia, em função de vários motivos. Então, a gente se reuniu para tentar desenvolver uma ação educativa para conscientizar as pessoas a não só respeitar o nome social, mas entender que essas pessoas também têm direito a acesso à educação, à saúde, enfim, a todos os bens sociais que fazem com que sejam cidadãs.”
Para marcar o dia de lutas, o Grupo TransRevolução promoveu um ato na Cinelândia com showde drag queens, testagem rápida para HIV e apresentações culturais com falas políticas. Para a prostituta e presidenta do Grupo TransRevolução, Indianara Siqueira, é preciso diferenciar a homofobia da transfobia.
“Desde 2004, a gente faz eventos para marcar o dia, mas acho que a gente tem que cada vez mais fazer eventos públicos para que isso fique bem marcado como o Dia da Visibilidade Trans, não só apenas sob o guarda-chuva da homofobia. A gente quer também que seja considerada a transfobia, porque nós morremos pela transfobia, e não pela homofobia.”
De acordo com as estimativas do grupo, cerca de 150 travestis e transexuais são assassinados por ano no Brasil, sempre com atos degradantes e de crueldade.
Segundo Cláudio Nascimento, a próxima questão da agenda trans no Rio de Janeiro, a ser trabalhada, será o processo transexualizador, que, de acordo com ele, precisa ter um programa mais amplo de saúde, bem como a inserção profissional para promover a inclusão.
Akemi Nitahara
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