Novo secretário de Direitos Humanos já debochou de homossexuais na Alerj

19 de fevereiro, 2016

(O Globo, 19/02/2016) Escolhido após pastor defendeu a cura gay, Paulo Melo fez declaração polêmica em 1999 

A polêmica não para. Depois de ter exonerado o pastor Ezequiel Teixeira da Secretaria estadual de Assistência Social e Direitos Humanos – que defendeu a cura gay -, o governador Luiz Fernando Pezão escolheu o deputado Paulo Melo para sucedê-lo no cargo. Ao ser anunciado, o parlamentar, que estava à frente da Secretaria de Governo, chegou a afirmar que era um dos maiores defensores dos homossexuais. Mas, segundo o jornal “Extra”, os arquivos de debates no plenário da Assembleia Legislativa revelam que ele já fez declarações jocosas ao falar sobre o tema. Durante seu terceiro mandado, em 1999, na votação de um projeto para tornar de utilidade pública o grupo Arco-Íris (voltado para a causa LGBT), Melo fez piada ao falar sobre a possibilidade da existência de ex-gays.

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Embora tenha votado favoravelmente ao projeto, o deputado disse, em plenário, durante um debate em que veio à baila a questão da cura gay, levantada por outro parlamentar, que “garrafa que levou querosene não perde o cheiro jamais”.

O trecho completo está registrado nos arquivos da Casa: “Sr. Presidente, não gostaria de criticar. Penso que devemos acreditar na recuperação do ser humano em todos os níveis. Em alguns casos, exigem-se provas científicas. No interior, existe a “prova da farinha”. Se não passar pela “prova da farinha de trigo”, não há justificativa. Voto favoravelmente ao projeto, porque devemos investir em todas as propostas, mas “garrafa que levou querosene não perde o cheiro jamais”.

A declaração de Melo foi feita para contestar o deputado Wolney Trindade, que, sem explicar as razões, fez objeções à ideia de conceder o título à entidade, afirmando que só vira ex-gay na Igreja Universal.

O projeto que gerou toda a discussão era de autoria do então deputado Carlos Minc (PT). Após a publicação da reportagem do “Extra”, O GLOBO não conseguiu contato com o secretário Paulo Melo.

Nesta quinta-feira, um dia depois de ser exonerado, o pastor Ezequiel Teixeira emitiu nova declaração polêmica e atacou a decisão de Pezão de retirá-lo do cargo. Em nota, o pastor afirmou que, “com sua demissão, o governador desconsidera uma parcela importante da população, que são os evangélicos, e faz uma clara opção pelo movimento gay”. Teixeira também afirmou que está sendo vítima de intolerância religiosa e que reassumirá o mandato de deputado federal para lutar o “bom combate” e convocou “o povo de Deus se levantar contra toda essa imoralidade”. “A minha luta continua em Brasília”, afirmou.

Sob a gestão de Teixeira, a Secretaria estadual de Assistência Social e Direitos Humanos desmantelou o programa Rio Sem Homofobia, subordinado à pasta, que teve seus serviços paralisados. Os quatro centros de Cidadania LGBT do estado foram fechados, e 78 funcionários foram demitidos. O Disque Cidadania LGBT também parou de funcionar. Procurado, o governador Pezão não comentou a nova declaração do pastor. Em entrevista para o telejornal “SBT Rio”, Pezão afirmou que errou ao nomear Teixeira para a pasta.

– Me surpreendi também (com as declarações) e assumo meu erro e minha culpa. Não é o perfil que eu esperava à frente da secretaria. Tenho um carinho muito grande pelo povo evangélico e o próprio apoio que recebi de diversas denominações. Mas me surpreendi muito com a fala e resolvi mudar o secretário – disse Pezão.

Antes de ser divulgado o teor das declarações feitas por Melo durante seu mandato na Alerj, o nome dele foi bem recebido por integrantes dos movimentos LGBT.

– Temos  consciência de que foi uma escolha política e não técnica. Mas o Paulo Melo, em sua atuação como deputado estadual mostrou que é uma pessoa aberta ao diálogo, não só com o grupo LGBT, mas com diversos outros setores da sociedade – afirmou Almir França, Presidente do Grupo Arco-Íris.

Coordenador do Rio Sem Homofobia, Claudio Nascimento também elogiou a escolha de Paulo Melo.

Márcio Menasce

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