(Folha de S.Paulo, 09/08/2014) “O movimento feminista mais importante na história é o movimento dos quadris.” Piadas típicas de cursinho pré-vestibular como essa correm risco de extinção.
As direções de instituições preparatórias frequentadas pela classe média alta paulistana têm orientado professores a suspender comentários jocosos para evitar processos.
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Alunos e especialmente alunas têm reclamado do que consideram machismo, homofobia e racismo aos pais, que cobram explicações.
“Virei chato. Não faço mais brincadeiras. Minhas aulas estão terminando mais cedo. Passo exercícios a mais”, diz um professor do Intergraus que não quis ser identificado.
Um professor do Anglo diz que é brincadeira entre os meninos chamar os professores de “bicha” e “veado”. No início de 2014, ele passou de sala em sala para informar: “Se eu for conivente, como sempre fui, estarei permitindo que vocês usem a palavra gay com sentido pejorativo. E não tem. Não permito mais”.
Para ele, o tema é tabu. “Entre 80 pessoas entenderem que é brincadeira e 20 acharem que você está incentivando alguma coisa, é melhor não fazer piada. O incrível é que, dez anos atrás, você podia contar piada de preto, de português. Ao mesmo tempo, era inimaginável ter dois meninos se beijando no cursinho como temos agora.”
“Eu, três meninas e um menino saímos da sala quando o professor falou que, se quiser ‘comer’ a empregada, o cara tem que levá-la ao Habib’s. Ele sempre fala que pobre adora Habib’s”, conta Julia Castro, 19, aluna do Anglo de Higienópolis. “Essas brincadeiras reforçam o preconceito. Nossa luta já é difícil.”
Adolpho Mayer, 18, disse que se indignou. “Isso é discriminação de classe.”
No aniversário de uma estudante no ano passado, meninos sortearam quem a beijaria. A aniversariante não consentiu, mas disse às amigas que foi obrigada pelo professor a ceder.
O professor, na condição de anonimato, admite que entrou na brincadeira: “Falei ‘quem vai ser o felizardo?’ Mas outra estudante protestou: ‘Mulher não é objeto para ser sorteada’. Eu então pedi desculpas e passei a repudiar a brincadeira”.
Para Clara, 18, que fez Intergraus em 2013 e hoje cursa arquitetura na USP, “o humor que oprime alguém não merece a risada de quem assiste à aula”. “Não digo que não se deve fazer piadas. Mas que estas sejam inteligentes o suficiente para tirar sarro do opressor, e não do oprimido.”
Jorge Ovando, gerente de marketing do Intergraus, afirma que as queixas, em geral, são fruto de má compreensão. “A instrução é não brincar.” Luís Ricardo Arruda, coordenador-geral do Anglo, conta que a recomendação é tratar os alunos “com respeito”. “As piadas têm que ser adaptadas a seu tempo.”
Thais Bilenky, de São Paulo
Acesse o PDF: Reação de alunos faz professores pararem com piadas homofóbicas em cursinho (Folha de S.Paulo, 09/08/2014)