(Folha de S.Paulo) A situação das meninas indígenas exploradas sexualmente é conhecida como um caso de impunidade na isolada São Gabriel da Cachoeira.
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Na Polícia Civil, três inquéritos foram abertos, mas nenhum dos nove suspeitos foi preso nem indiciado.
O delegado titular da cidade, Normando da Barbosa, afirma que pediu a prisão de um suspeito, mas ele fugiu da cidade. Os demais nunca prestaram depoimento.
Os crimes de estupro de vulnerável e exploração sexual têm penas previstas de quatro a dez anos de reclusão.
A irmã Giustina Zanato, 63, presidente do Conselho Municipal de Defesa da Criança e do Adolescente, diz que os casos são denunciados desde 2008.
“Fomos procurar a Justiça. Lá disseram que deveríamos ficar quietinhos no nosso lugar, que isso acontecia todos os dias”, afirma Giustina.
Promotora de Justiça de São Gabriel, Christina Dolzany diz que ouviu depoimentos de dez meninas. “É uma coisa animalesca e triste, algumas delas relatam que perderam a virgindade nessa situação de exploração.”
Algumas meninas, segundo Christina, já estão recebendo assistência psicológica.
O procurador federal Júlio José Araújo Junior, que atua no direito indígena, determinou a abertura de inquérito.
“A investigação pela PF se deve muito pela insatisfação da sociedade com as investigações que não andaram [na Polícia Civil]. Os acusados são pessoas que têm certo poder dentro da cidade, o que intimida qualquer tipo de denúncia”, disse o procurador.
O delegado titular em São Gabriel atribui a morosidade da investigação à dificuldade de encontrar as garotas. “Passamos 30 dias para localizar quatro meninas. Apenas uma delas fez o exame de corpo de delito para comprovar a conjunção carnal. Assim fica difícil, elas mesmo dificultam.”
CABEÇA DO CACHORRO
São Gabriel da Cachoeira fica no Alto Rio Negro, região rica em minérios que abriga a maior população indígena no Brasil. São 22 etnias, daí 90% da população ser formada por índios, incluindo o prefeito e o vice-prefeito do município.
A região, também conhecida como Cabeça do Cachorro, é estratégica para as Forças Armadas do Brasil, pois é alvo do tráfico de drogas e de incursões de guerrilheiros.
Em muitas aldeias não há escolas e opções de sustento o que leva as famílias à cidade. Lá, encontram a exclusão.
Os brancos formam a elite, em sua maioria funcionários públicos e militares. Os índios sobrevivem com ajuda de programas sociais e moram em casebres de chão de terra batida e sem água encanada.
O alcoolismo e o suicídio entre eles são o maior drama social local.
Acesse em pdf: Sexo por bombom (Folha de S. Paulo – 04/11/2012)