22/02/2011 – Jornalista sofre agressão sexual no Cairo e passa de vítima a acusada

22 de fevereiro, 2011

(Folha/Estadão.com) A jornalista norte-americana Lara Logan, correspondente do canal CBS News, que foi brutalmente agredida e violentada enquanto cobria a renúncia do ditador egípcio Hosni Mubarak na praça Tahrir, centro do Cairo, tornou-se alvo de críticas racistas e sexistas nos EUA.

Em “país de selvagens”, repórter “mulher, branca e loira” assume o risco

Segundo Andrea Murta, correspondente da Folha em Washington, “a reação mais polêmica até agora foi do repórter free-lancer e até então professor da prestigiada Universidade de Nova York Nir Rosen. Em seu Twitter, ele disse que, já que Logan ‘estava para se tornar uma mártir glorificada, devemos nos lembrar de seu papel como grande ‘defensora de guerras’ (…) Provavelmente, foi apalpada como milhares de outras’. Pouco depois, disse estar ‘revirando os olhos com a atenção que [Logan] vai receber’ pelo estupro e que, se ela não fosse branca, ninguém ouviria falar do ataque”.

Nir Rosen apagou a declaração de seu Twitter e pediu desculpas, mas mesmo assim foi demitido. Mas o professor Rosen não foi o único. Diversos blogueiros sugeriram que Logan era culpada pelo ataque, pois assumiu o risco como mulher, “loira ainda por cima”. Na Fox News, o apresentador de ultradireita Glenn Beck usou o episódio para criticar o levante no Egito e afirmar que o país cairia no caos. Já a radialista e blogueira conservadora Debbie Schlussel foi além e disse que o ataque “aquecia seu coração”: “Não me incomoda nem um pouco que repórteres que dizem que muçulmanos e o islã são pacíficos recebam uma dose da ‘paz” real deles. (…) Espero que esteja gostando da revolução, Lara! Isso nunca aconteceu quando Mubarak tratava seu país de selvagens da única forma como podem ser controlados’.”

Com a polêmica, caso ganha destaque

A demissão de Nir Rosen e o telefonema do presidente dos EUA, Barack Obama, à repórter Lara Logan chamaram a atenção pública para o caso, que até então estava sendo pouco divulgado pelos grandes jornais americanos e pela própria CBS. “No seu blog no Washington Post, Richard Cohen, criticou a omissão da CBS na divulgação do crime contra sua repórter. ‘Muitas organizações jornalísticas não divulgam o nome de vítimas de estupro’, argumentou Cohen. ‘No caso de Lara, infelizmente, não haveria meio de ocultar seu nome. Sua privacidade não é tão importante quanto a notícia’.”

Saiba mais

Segundo informações veiculadas pela própria CBS News, Lara Logan cobria as celebrações no Egito após a queda do ex-presidente para o programa “60 Minutes” quando foi cercada. Ela sofreu agressão sexual e espancamento antes de ser salva por um grupo de mulheres e soldados egípcios.

Segundo pesquisa, 98% das estrangeiras e 83% das egípcias já sofreram assédio sexual no país.

“Acredita-se que respostas do tipo motivam as pouquíssimas denúncias de repórteres atacadas sexualmente. Um artigo de 2007 publicado na revista de jornalismo da Universidade Columbia afirma que abusos são comuns em locais como zonas de guerras, mas mulheres temem falar a respeito por medo de ser consideradas mais fracas que colegas homens”, informa a correspondente da Folha.

Segundo o Comitê de Proteção dos Jornalistas, uma ONG de ativistas pela liberdade de expressão, ao menos 140 jornalistas foram feridos ou morreram desde o dia 30 de janeiro durante a cobertura dos protestos no Egito.

Leia as matérias na íntegra: 
A vítima é a culpada, por Carlos Brickmann (Observatório da Imprensa – 22/02/2011)
A cobertura falha de um ataque brutal, por Leticia Nunes (Observatório da Imprensa – 22/02/2011)
O trabalho da mulher nas áreas de conflito, por Kim Barker (O Estado de S. Paulo -22/02/2011)
Tema de Lara (O Estado de S. Paulo – 19/02/2011)
Estupro de repórter vira rixa política nos EUA (Folha de S.Paulo – 18/02/2011)
Repórter agredida no Egito deixa hospital (O Estado de S. Paulo – 18/02/2011)
Jornalista da CBS teria sido atacada após renúncia de Mubarak (Estadão.com – 15/02/2011)

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