(Envolverde-IPS/Adital) A violência sexual contra as mulheres aumenta de modo exponencial no México, junto com a intensificação do enfrentamento entre forças de segurança e máfias de narcotraficantes, afirmam organizações defensoras dos direitos humanos. “Vemos um aumento da violação, hostilidade sexual e violação de meninas”, disse à IPS a ativista Imelda Marrufo, fundadora e coordenadora da Rede Mesa de Mulheres, em Ciudad Juárez, que faz fronteira com os Estados Unidos.
O Observatório Cidadão Nacional do Feminicídio (OCNF), que reúne 43 organizações de mulheres e de direitos humanos e de mulheres, registrou cerca de sete mil violações em dez dos 32 Estados mexicanos em 2010, dado que pode ser ainda maior, considerando que as vítimas não denunciam todos os atos de violência. A agressão sexual é a terceira forma mais grave de violência contra as mulheres, atrás do assassinato e do desaparecimento.
Em locais como Ciudad Juárez, invadida por policiais, militares e narcotraficantes, grupos de homens “levantam” (sequestram sem pedido de resgate) meninas e mulheres, as violentam e depois as libertam. “É muito grave a situação. Os casos não são investigados e há muita impunidade. As organizações nos pediram para documentarmos os casos”, disse à reportagem da IPS a coordenadora executiva do OCNF, María Estrada, que também é responsável pelo programa de Violência de Gênero e Direitos Humanos da rede Católicas pelo Direito de Decidir.
“A violência contra a mulher está enraizada na sociedade. Permite-se torturá-las, violentá-las e assassiná-las, considerando-as a camada mais baixa da sociedade, e depois são jogadas fora”, disse à IPS a representante do Conselho Geral de Advocacia Espanhola, Isabel Valriveras. Ela integra a missão internacional “Pelo Acesso à Justiça para as Mulheres”, que percorre México, Guatemala e El Salvador, desde o dia 17, para inspecionar a situação da violência de gênero e analisar as medidas tomadas a respeito. Seu trabalho terminou no ontem, véspera do Dia Internacional da Eliminação da Violência Contra a Mulher.
O Estado mexicano foi condenado três vezes, entre 2009 e 2010, pelo Tribunal Interamericano de Direitos Humanos, máxima corte no contexto da OEA (Organização dos Estados Americanos), por violações dos direitos das mulheres.
A Anistia Internacional informou que pelo menos 60 indígenas foram violentadas por soldados entre 1994 e 2011.
“Não é apenas invasão de corpo, mas a violação é exercida desde aspectos culturais, por serem mães e esposas de quem está dentro do crime organizado. E não se vê mensagens claras do Estado de que não se permitirá a violência de gênero”, disse à IPS a pesquisadora Julia Monárrez.
Somente em 18 meses, de janeiro de 2010 a junho de 2011, registraram-se 1.235 assassinatos de mulheres em oito Estados e outras 3.282 desaparecerem em nove, segundo o Relatório “Um olhar ao feminicídio no México: 2010-2011”, do Observatório Cidadão. 41% das vítimas eram jovens, de 11 a 30 anos de idade; 35% tinha de 31 a 50 anos e 13% mais de 50 anos. Os outros 24 Estados mexicanos não forneceram informações, o que torna o problema ainda mais alarmante.
“Não entendemos como a autoridade pode catalogá-los como crime organizado, quando as investigações nem sequer estão consignadas”, questionou a integrante da organização Católicas pelo Direito a Decidir, que exortou ao Estado mexicano a não escudar-se no crime organizado para não investigar.
Leia essas reportagens na íntegra:
Mulheres – México: Coquetel fatal de violações e impunidade (Envolverde-IPS – 25/11/2011)
OCNF: Feminicídios, uma ‘atrocidade’ que se vive em todo o país (Adital – 25/11/2011)