Manifestações ocorrem em Buenos Aires e em diversas cidades pelo continente, e contam com apoio de diversas organizações
(Brasil de fato, 02/06/2017 – acesse no site de origem)
O movimento feminista argentino convoca para este sábado (3) mais uma mobilização conhecida como “#NiUnaMenos (#NenhumaAMenos). Esta é a terceira edição do protesto, que agora se dá com uma ampla articulação em todo o continente. Em Buenos Aires, capital do país sul-americano, o protesto inicia na Praça do Congresso, às 16 horas, e segue até a Praça de Maio, como informa o jornal Página 12.
Do primeiro protesto, em 2015, até hoje,”os números de mortes por feminícidio estão cada vez piores. Em 2017, uma mulher é assassinada a cada 18 horas, enquanto o Estado desmonta e retira o financiamento para programas de combate à violência contra a mulher. Não se trata de um Estado ausente, mas de um governo que ativamente decide dar as costas para esse problema e utiliza as suas forças para perseguir e reprimir as mobilizações. Estamos diante de um Estado responsável, não pela omissão, mas pela ação direta contrária aos direitos”, diz a articulista Ana María Vázquez Duplat, no portal argentino Marcha Noticias.
Entre as organizações que se articulam e promovem protestos no mesmo dia, está a Alba Movimentos (ler declaração abaixo). A articulação continental se manifesta em apoio e convoca os movimentos populares de toda a América para a mobilização.
No Brasil, a Marcha Mundial das Mulheres, integrante da Alba, realiza um debate online entitulado “Militarização, Golpe e Luta das Mulheres”, que será realizado às 12h, no canal do YouTube da organização, como parte da mobilização de 24h de solidariedade feminista pela paz e contra a guerra.
História
No dia 11 de maio de 2015, a Argentina e o mundo todo se comoveram diante do feminicídio de Chiara Pérez, uma menina de 14 anos, espancada até a morte e enterrada no quintal da casa dos avós do seu namorado.
O feminicídio de Chiara foi o principal motivo para convocar uma manifestação para o dia 3 de junho daquele ano, sob a palavra de ordem #NiUnaMenos (#NenhumaAMenos), contra a violência machista.
Nessa data, uma onda de indignação percorreu todo o território argentino e ultrapassou as suas fronteiras. Um enorme protesto encheu o Congresso Nacional, em Buenos Aires, onde milhares de pessoas gritaram, pela primeira vez, “Nenhuma a menos”, por Chiara e por todas as mulheres assassinadas.
A mobilização se espalhou e se repete até hoje.
Confira a declaração da Alba Movimentos
Mobilizamos Nossa América pelo fim da violência contra as mulheres
#NenhumaAMenos #VivasNosQueremos
Ser mulher é viver constantemente em um estado de guerra.
Guerras que acontecem em nossas terras, nos espaços em que as mulheres habitam e em seus corpos.
Essas afirmações dão uma ideia sobre as terríveis consequências da violência para a vida de milhares de mulheres no mundo, em especial no nosso continente.
Há mais de dois anos, as mulheres da Nossa América têm levantado suas vozes em manifestações históricas no marco do movimento #NenhumaaMenos (#NiUnaMenos, no original em espanhol); em todos os nossos países, elas têm protagonizado as maiores mobilizações pelo direito a uma vida sem violência; para não serem assassinadas no espaço doméstico por causa de uma cultura machista que converte as mulheres em objetos dos homens; para não serem estupradas em uma rua escura por causa da roupa que usam; para não serem objetos de guerra ou mercadorias para o tráfico internacional, que satisfazem os piores instintos daqueles que tentam nos submeter; para não desaparecerem nas mãos de organizações paramilitares ou exércitos a serviço das oligarquias nacionais e transnacionais, quando se colocam à frente da luta em defesa da água, do território e da biodiversidade das terras ancestrais ocupadas por seus povos.
Por essas razões e muitas outras, as mulheres saem às ruas para defender o direito de estarem vivas, pelo direito à integridade física e psicológica.
Entretanto, elas seguem estigmatizadas e odiadas por levantar as bandeiras de lutas históricas e são tratadas como “bruxas histéricas incapazes de amar”. Essa difamação dirigida às mulheres afeta todas as lutas dos nossos povos, pois não é possível viver em uma sociedade baseada na solidariedade, na igualdade e na liberdade se mais da metade da população já nasce sob ameaça.
Historicamente, as mulheres se dedicam ao cuidado da vida, não só da vida humana (crianças, idosos e idosas, deficientes e pessoas com necessidades especiais), mas garantem a sobrevivência dos saberes ancestrais da nossa terra na resistência cotidiana contra os inimigos dos nossos povos.
Hoje, a direita internacional, seus governos, oligarquias e grandes capitais, nos atacam com suas máquinas midiáticas e seus tanques de guerra, se apropriando dos nossos recursos econômicos e ambientais.
As mulheres se colocam à frente das lutas pelos setores invisibilizados da sociedade e, com suas mãos fortes e suas vozes potentes, sem medo de lutar por suas vidas e pelas necessidades para o bem viver de suas comunidades.
Por todas essas razões, a partir da Alba Movimentos, nos unimos, homens e mulheres, na luta que hoje as valentes heroínas da Nossa América lideram, conscientes de que as ameaças que sofrem são ameaças contra toda a população, e que suas bandeiras são reivindicações de todo o povo.
Nos mobilizando neste 3 de junho, assumimos a luta pelo feminismo, contra o patriarcado e o capitalismo – que são as duas cabeças do mesmo corpo –, como parte do nosso horizonte estratégico, conscientes de que não haverá paz e nem justiça enquanto as mulheres não sejam livres e não possam viver sem violência.
Em todos os nossos países, seguimos no caminho da esperança e da vitória das mulheres do nosso continente.
#NenhumaAMenos
#VivasNosQueremos
Coordenação Política
ALBA Movimentos
29 de maio de 2017
Edição: Vivian Fernandes | Tradução: Luiza Mançano