“Ele nunca teria a intenção de me machucar” foi a frase que Emilly usou para expressar sua contrariedade diante da expulsão de Marcos do “Big Brother Brasil”. Ao não se reconhecer como vítima de um relacionamento abusivo, a estudante reproduz um comportamento bastante comum, segundo a professora de psicologia Jaqueline Gomes de Jesus, coordenadora do curso de extensão Feministas nas Trincheiras da Resistência do Instituto Federal do Rio de Janeiro.
(UOL, 11/04/2017 – acesse no site de origem)
“A dificuldade acontece até com mulher que é ameaçada com faca, com arma de fogo. É comum se ouvir: ‘Ah, ele me ama, só estava irritado’. É uma distorção da realidade”, afirma a especialista.
Leia mais:
Experimente trocar a palavra Emilly por “sua filha”, por Lia Bock (UOL, 11/04/2017)
Após expulsão no ‘BBB’, web discute relacionamento abusivo (O Estado de S.Paulo, 11/04/2017)
A violência contra a mulher ganha mais um capítulo na rede Globo (El País, 12/04/2017)
Nota de repúdio sobre BBB 2017 e Rede Globo: Por que expulsar o agressor não basta, por Rede Mulher e Mídia
Após agressão, Marcos é expulso do ‘BBB 17’ (O Globo, 10/04/2017)
Relacionar comportamentos como o de Marcos com violência também é difícil porque, em geral, começam gradativamente. “Vão acontecendo permissões sutis”, fala Jaqueline. Começa com pressão psicológica, gritos e ofensas, que viram empurrões, beliscões, até que formas mais graves de violência aconteçam.
De acordo com a juíza Teresa Cristina Cabral Santana Rodrigues dos Santos, integrante da Coordenadoria Estadual da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar do Poder Judiciário do Estado de São Paulo, relacionamentos abusivos iniciam-se, em geral, com violência psicológica.
“Primeiro, o homem diz ‘você não pode isso ou aquilo’. E até a violência física começa aos poucos. Um dedo em riste, um chacoalhão, para depois chegar em chutes e socos”, declara Teresa Cristina.
O fato de Emilly encarar de forma “natural” o que aconteceu com ela tem explicações variadas. Há um componente pessoal que só se pode esclarecer ao se conversar com a pessoa sobre sua história de vida, mas há outros culturais.
“O primeiro ponto é que a sociedade atual banaliza a violência, por isso um apertão ou um chacoalhão podem não ser considerados agressões físicas. Esse tipo de percepção vem de homens e mulheres”, fala Jaqueline.
A cultura do “príncipe encantado” também colabora para essa “cegueira” em relação à violência, na opinião da professora. “Como existe a ideia de que a mulher só se completa em um relacionamento, a ideia de que ela tem de perdoar, de que o homem vai melhorar um dia, é reforçada.”
Por Adriana Nogueira