Atendimento médico é fundamental após abuso. No entanto, 201 pessoas não recorreram ao SUS
(Folha PE, 20/09/2016 – acesse no site de origem)
A falta de unidade entre dados sobre estupro no Estado demonstra claramente o desafio que o assunto é tanto para o conhecimento real de cenário deste crime, quanto para o seu enfrentamento. Além do enorme problema de segurança, a violência sexual também é grave problema de saúde pública. Levantamento feito pela Folha de Pernambuco demonstra isso.
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Entre janeiro e junho deste ano, 927 vítimas (mulheres e homens) deram queixa nas delegacias, contra 726 que buscaram assistência do SUS após abuso. Ou seja, cerca de 30% (201) das pessoas deixaram de buscar ajuda médica depois do crime, que envolve, além dos riscos de doenças sexualmente transmissíveis, danos físicos, traumas psicológicos e emocionais.
“Já tínhamos notado essa diferença. Ou seja, as vítimas dão queixa, são lesadas corporalmente, mas não acham que há necessidade de acompanhamento médico. Muitas vezes não sabem que precisam e que existe esse atendimento à saúde e que necessitam de medicações preventivas”, atesta a gerente da Saúde da Mulher do Estado, Letícia Katz.
O infectologista Filipe Prohaska explicou que as vítimas devem, de imediato, fazer uma profilaxia para o HIV e também contraceptiva, além de realizar exames para hepatite. “A pílula do dia seguinte se toma uma dose única, o coquetel para o HIV – com três drogas – tem que ser feito por 30 dias e faz-se exames para hepatite. Para o HIV se faz uma testagem no dia que a pessoa chega no serviço, outra 60 dias após e uma última com 180 dias”, elencou Prohaska. As medicações são essenciais nos casos em que houve a conjunção carnal.
Segundo Leticia Katz, nesta semana, a câmara técnica da Secretaria da Mulher se reunirá com a SDS para alinhar estratégias entre a notificação policial e a dos serviços de saúde.
Uma das formas de enfrentar essa ausência de pessoas estupradas nos serviços médicos é dar visibilidade às unidades de referência à assistência dessa violência. De acordo com Secretária Estadual de Saúde , são 13 serviços – acesse o QR Code e confira a lista completa deles. Todos oferecem seis meses de companhamento.
O serviço mais recente para acolher vitimas de estupro foi aberto no Hospital da Mulher do Recife – o Centro de Atenção à Mulher Vítima de Violência Sony Santos. Inaugurado há dois meses, com um modelo piloto integrando saúde, assistência e polícia, já atendeu 30 mulheres – uma vítima a cada dois dias. A coordenadora do espaço, Sandra Leite, apontou que o volume em tão curto tempo demonstra a demanda pelo apoio. O perfil das pacientes é variado. “A violência atinge todas as áreas e classes sociais. Já atendemos desde analfabetas até pós-graduadas. Desde criança de 10 anos até mulheres de 50”.