Policiais precisam ser capacitados para lidar com vítimas de estupro, diz secretária nacional de Direitos Humanos

31 de maio, 2016

(O Globo, 31/05/2016) Flávia Piovesan pretende articular campanha nacional para ‘desmantelar’ cultura machista e sexista

Prestes a tomar posse como secretária de Direitos Humanos do governo federal, Flávia Piovesan acredita que os operadores da segurança pública e da Justiça no país precisam ser capacitados para lidar com vítimas de estupro. Sem se aprofundar na conturbada investigação do caso da menina violentada no Rio de Janeiro, alegando desconhecer os detalhes, ela considerou um “passo positivo” a substituição do delegado Alessandro Thiers por uma mulher, com quem a garota poderá se sentir mais à vontade.

Flávia propôs ao ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, uma ampla campanha, em todos os meios de divulgação, de combate à violência de gênero, em reunião nesta terça-feira com secretários de segurança pública do país inteiro, em Brasília. Para ela, o Brasil tem legislação adequada, mas carrega uma cultura atrasada pautada no sexismo. Essa mentalidade, segundo Flávia, leva à “perversidade de fazer da vítima a culpada”.

— Há legislação suficiente no país, mas é importante que haja uma mudança de cultura e também a capacitação dos operadores da segurança e da Justiça — afirmou.

Para ela, o fato de a investigação do estupro coletivo ocorrido no Rio ter passado para a alçada de uma delegada mulher provavelmente trará tranquilidade à vítima. Flávia afirma que é preciso ampliar o atendimento qualificado a mulheres que sofrem agressão para que elas não se intimidem na hora de denunciar devido à “violência institucional” que podem sofrer em delegacias e outros espaços públicos. Depois da acolhida inicial, diz a futura secretária, o Estado brasileiro tem que investigar, processar e punir os culpados exemplarmente.

Segundo ela, a campanha que pretende encampar terá o objetivo de “desmantelar” a cultura sexista, pautada na diferença discriminatória de gênero. Flávia quer aproveitar todos os meios possíveis de divulgação, citando ter trabalhado com alunos de direito, como professora universitária, o tema por meio do clipe da cantora Lady Gaga, da música Till It Happens to You (Até acontecer com você, numa tradução livre). A artista contou ter sido estuprada aos 19 anos.

Na avaliação dela, é a cultura machista e sexista que leva a comentários nas redes sociais e até de forma presencial, por uma parcela da sociedade, que tentam culpar a menina pelo estupro ocorrido no Rio. O uso de drogas, álcool ou qualquer outro tipo de substância, segundo Flávia, não pode servir de justificativa para colocar a vítima no lugar do agressor.

— É inadmissível culpar a mulher porque teria oportunizado o estupro. Mais uma vez, o que vemos são conceitos sexistas em relação à mulher. Ou seja, comportamentos morais diferentes, como o uso de álcool ou drogas, são demandados de homens e mulheres. Nessa lógica, a cultura da violência ganha espaço.

A secretária, que deve tomar posse na próxima semana, ressaltou que o problema não é exclusivo do Brasil. Flávia disse que até países de primeiro mundo enfrentam o desafio do machismo arraigado na cultura que culmina na violência contra a mulher. Ela aguarda a liberação da Procuradoria do Estado de São Paulo, onde é procuradora, para assumir a secretaria de Direitos Humanos, que será ligada ao Ministério da Justiça.

POR RENATA MARIZ

Acesse em pdf: Policiais precisam ser capacitados para lidar com vítimas de estupro, diz secretária nacional de Direitos Humanos (O Globo – 31/05/2016)

 

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