A noite de premiação teve atrações que despertaram o público para a importância da violência contra a mulher no Brasil. Entre as personalidades que se apresentaram estão Elza Soares, Gisele Itié, Paula Lima e Karol Conka, além do discurso de grandes mulheres atuantes na causa, entre elas a farmacêutica Maria da Penha
(Marie Claire, 22/11/2018 – acesse no site de origem)
primeira edição do Prêmio Viva foi uma noite marcada por muita emoção e empoderamento no Palácio do Tangará, em São Paulo. O evento, realizado nessa quinta-feira (22), é uma parceria entre Marie Claire e o Instituto Avon para homenagear as pessoas que estão mudando a história da violência contra a mulher no país.
Para abrir as homenagens, Giselle Itié apresentou a performance “Soror”, dirigida e criada por ela especialmente para o prêmio. Ao lado de outras mulheres, como Samara Felippo e Dandara Pagu, ela emocionou todos os presentes. “Para ressaltar que as mulheres devem cultivar a irmandade. A força que existe em acolher e empoderar uma a outra é essencial para enfrentar a sociedade patriarcal”, disse a atriz.
Laura Ancona, diretora de redação de Marie Claire, fez o primeiro discurso da noite. “Juntos seremos agentes de mudança. Somos duas marcas que têm o feminismo no DNA”, disse ela. “Foi um processo difícil escolher quem premiar. Tivemos mais de 20 mil votos apenas numa semana de votação”, continuou. “Não vamos deixar que os avanços que conquistamos até aqui retrocedam. Somos e seremos, sempre, resistência”.
O primeiro prêmio da noite, na categoria Saúde, foi entregue pela ginecologista, obstetra e referência em saúde pública há mais de 40 anos, doutora Albertina Duarte Takiuti. Melania Amorim foi a vencedora. Ela atua na única maternidade pública de campina grande, na paraíba, superlotada e com falta de verba. Ali, reduziu as taxas de cesárea e de episiotomia, procedimentos criados para casos excepcionais, mas que viraram regra no país.
“Quero dedicar esse premio a todas as mulheres que lutam por parto livre”, disse ela ao receber o prêmio.
Relembrando, Marielle Franco, a apresentadora Adriana Couto chamou para a segunda categoria, Sociedade Civil. Quem entregou o troféu foi Marinete Silva, mãe da vereadora assassinada no Rio.
“Participar de um projeto desse em nome da Marielle é gratificante e bem doloroso”, disse. É um gradecimento e quase um clamor para que a gente descubra quem mandou matá-la”, continuou. “Ela era resistência, luta, garra e incomodou. A únuca maneira de para-la era dessa forma [mantando]. Ela dizia: não vão me calar. Que a gente consiga chegar aos mandantes”, pediu.
A advogada e uma das fundadoras do Geledés, o Instituto da Mulher Negra, uma das organizações de maior impacto no feminismo negro, Sônia Nascimento, foi a vencedora.
A categoria de Revendedoras foi a terceira a ser anunciada. O prêmio foi entregue pela vice-presidente global de marcas, comunicação e conteúdo da Avon, Danielle Bibas.
“Comecei a entender a situação da violência quando nem exisita delegacia e nem nada. Apareceu uma vez uma mulher com o rosto queimado, dizendo que o marido jogou água quente. Nós a acompanhamos. No final, na audência, ela disse: não foi ele [embora fosse]. E ela disse que iria ficar sem o marido, ele seria preso e ela não queria isso pra ele”, contou. “Esse exemplo me marcou muito. Uma mulher que passou pelo que passou, dizendo que é um bom pai, Quero oferecer o prêmio para elas”, finalizou.
“A nossa rede promove equidade de gênero e independência financeira de mulheres há mais de 130 anos. Isso não é discurso; é vida real. Num mundo em que vergonhosamente as mulheres ainda ganham, em média, 30% menos do que os homens, e em que ainda são questionados os direitos mais básicos – como o da licença-maternidade – eu realmente me sinto num lugar especial”, disse ela antes de entregar o troféu a Josefa de Oliveira Silva.
“Eu havia dito lá atrás aos meus filhos que ganharia esse prêmio. Falar desse trabalho é emocionante demais”, afirmou. “Por duas situações eu socorri duas mulheres, acolhendo em minha casa”, lembrou ao falar que sua família apoia sempre em situações desse tipo.
Neste momento, Karol Conká saiu direto da plateia para fazer uma apresentação empoderadora com as músicas “Kaça” e “100% Feminista”.
O próximo tema da premiação foi segurança. A responsável por entregar o troféu para a mais votada nesta categoria foi a major Claudia Moraes. Ela é coordenadora do Dossiê Mulher, um relatório anual do Instituto de Segurança Pública do Rio que aborda os principais crimes dos quais as mulheres são vítimas.
A vencedora foi Lucia Helena Salgueiro. Por cinco anos, ela comandou a Patrulha Maria da Penha em Recife, iniciativa que teve quase 20 mil atendimentos em 46 municípios do estado. Ela foi representada na noite de festa por Suzana Nascimento, capitã da polícia militar de Pernambuco.
Após a entrega do prêmio foi exibido um vídeo com nomes de vítimas de feminicídio junto com uma performance do Slam das minas e Ryane Leão.
A próxima categoria da noite foi Justiça. O troféu foi entregue por uma das juradas do Prêmio Viva, a promotora de justiça e coordenadora do Grupo Especial de Enfrentamento à Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher, do Ministério Público do Estado de São Paulo: Silvia Chakian.
Patrícia de Amorim Rêgo foi a escolhida. Ela possui uma carreira de 24 anos no Ministério Público do Acre, incluindo um mandato de procuradora geral de justiça. Há dois anos, viu sua perspectiva de atuação se modificar, a partir da atuação no centro de atendimento à vítima, o CAV, em Rio Branco. Com equipe multidisciplinar, o órgão atendeu 198 casos no primeiro semestre deste ano – 50 deles de violência doméstica, 53 de violência sexual e 46 de crimes contra LGBT’s.
O diretor editorial da Editora Globo, Fernando Luna, e o presidente da Avon no Brasil, José Vicente Marino, foram chamados ao palco para apresentarem o prêmio seguinte, Eles por Elas.
Só tem um jeito de acabaar com a violencia com a mulher: os homens parando de agredir e matar.
“Essa categoria é sobre homens que querem esse mundo da igualdade de gênero. Pra isso acontecer, os homens precisam parar de agredir as mulheres. Chega de masculinidade tóxica. Chega de desigualdade de gênero”, disse Luna.
Marino seguiu no mesmo tom. “Há muitos outros homens que como eu continuam buscando fazer a nossa parte”, escreveu enquanto lia uma carta escrita para sua filha antes do anúncio do vencedor.
O sargento da PM em Joinville, Santa Catarina, Elisandro Lotin de Souza, foi o vencedor. Ele foi o responsável por uma cartilha distribuída em quartéis e delegacias que encorajou denúncias e investigações sobre assédio sexual contra policias mulheres.
Suzi Pires, atriz e colunista de Marie Claire, subiu ao palco logo após o prêmio para fazer uma entrevista ao vivo com Ana Fontes, especialista em empreendedorismo feminino. “A gente acha que quando se fala de dinheiro, a gente está vendendo a gente. Não é isso. Dinheiro é bom e a gente precisa tirar esse manto de que o território do dinheiro não é coisa de mulher”, afirmou Fontes. “Ser dona do seu dinheiro signofica que você pode sair de uma situação de violência porque consegus sustentar a si e sua família”.
A atriz permaneceu no palco para entregar o troféu de Autonomia Econômica e Empreendedorismo para Aline Cardoso e Gabriela Manssur, que foi representada pela sua filha, Camila Zarzur.
Assim que todas as categorias foram entregues, a pesquisadora e mestre em filosofia, Djamila Ribeiro, foi chamada para fazer um discurso. Ela cirou Audre Lorde, citada também por Marielle Franco em seus últimos dias de vida.
“Não sou livre enquanto outra mulher for prisioneira mesmo que as correntes dela sejam diferentes das minhas”.
Outro momento de destaque da noite foi a homenagem a Maria da Penha. Há 12 anos foi sancionada que leva seu nome. Foi um marco legal, que é hoje o principal instrumento para conter a violência contra as mulheres, seja ela doméstica, sexual, psicológica ou patrimonial. Quem entregou o prêmio foi Gisele Itié.
“Estou emocionada por essa grande festa. Gostaria de lembrar por que há 35 anos iniciei minha vida de cadeirante. Gostaria de falar que nunca, raramente, eu ouvia falar sobre as vítimas invisíveis da violência doméstica. Até hoje o Estado não tem consciência dessas vítimas, que são os filhos dessas mulheres”, afirmou. “As mulheres, quando assassinadas, geralmente, deixam três crianças. E nós não temos conhecimento do estado das crianças. Provavelmente, elas permanecem com o pai que matou sua mãe. Isso continua a me incomodar. O que me angustiava era morrer e minha filhas ficarem com o pai, sendo vítimas também. A minha luta trouxe oportunidade de vitória para mulheres que sofrem com violência doméstica”, declarou. “O que queria era que meu agressor cumprisse pena de prisão pelo que fez, e isso demorou 19 anos e 6 meses para isso acontecer”.
Por fim, Elza Soares fez um discurso, seguido por uma apresetanção de Paula Lima. Os convidados aproveitaram a noite com bebidas da Evino.
“A gente tem que ter cuidado para não deixar escapar o restinho que temos de cultura e arte, temos que lutar para não perder o pouquinho”, afirmou Elza. Ela ainda fez uma referência para Maria da Penha. “Você é necessária. Como mulher, me sinto amparada com sua presença”.
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