Campanha chamada ‘Vidas Negras’ foi lançada nesta terça, em Brasília. Organização afirma que violência no país está relacionada ao racismo.
(G1, 07/11/2017 – acesse no site de origem)
Uma campanha da Organização das Nações Unidas (ONU Brasil) pretende mostrar a relação entre racismo e violência no país. A iniciativa “Vidas Negras” foi lançada nesta terça-feira (7), em Brasília, e chama a atenção para morte de um jovem negro a cada 23 minutos no país. Os números são do Mapa da Violência, da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso).
A campanha faz parte dos eventos que serão promovidos no mês da Consciência Negra e reúne uma série de vídeos que abordam temas como “filtragem racial”. Segundo a ONU, trata-se da escolha de suspeitos pela polícia com base “exclusivamente na cor da pele”. Outro tema é o “extermínio da juventude negra”.
Na campanha, os números os são apresentados por artistas como Taís Araújo, Elisa Lucinda e Érico Brás. Os vídeos deverão ser veiculados ao longo de um ano, nos meios de comunicação. Segundo o coordenador residente das Nações Unidas Niky Fabiancic, o objetivo da campanha é “incluir jovens negros na agenda do desenvolvimento sustentável”.
“Cada vida importa. Não podemos deixar ninguém para trás.”
Números da violência
Segundo uma pesquisa realizada pela Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR) e pelo Senado Federal, 56% da população brasileira concorda com a afirmação de que “a morte violenta de um jovem negro choca menos a sociedade do que a morte de um jovem branco”.
O dado, de acordo com a ONU, revela o “grau de indiferença com que os brasileiros têm encarado um problema que deveria ser de todos”. Luana Vieira, representante da Seppir no lançamento da campanha, destacou a importância da “representantividade em diversos espaços” para “iniciar a mudança”.
Segundo a oficial de Programa do Fundo de População da ONU Ana Cláudia Pereira, “todos os anos são assassinadas no país 30 mil pessoas, 23 mil são jovens negros” (veja entrevista). A campanha pretende mostrar que preconceitos aumentam a discriminação racial e fazem com que os jovens negros sejam as principais vítimas, diz ela.
Outros números lembrados na campanha “Vidas Negras”, foram divulgados na última semana pelo Fundo das Nações Unidas (Unicef) em um documento que mostra que de cada mil adolescentes brasileiros, quatro vão ser assassinados antes de completar 19 anos. Se o cenário não mudar, serão 43 mil brasileiros entre os 12 e os 18 anos mortos de 2015 a 2021, três vezes mais negros do que brancos.
“A campanha defende que esta morte precisa ser evitada e, para isso, é necessário que Estado e sociedade se comprometam com o fim do racismo”, diz o documento.
Marília Marques