(Agência Brasil, 05/11/2015) O presidente da Associação Brasileira de Pesquisadores Negros (Abpn) e coordenador do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da Universidade do Estado de Santa Catarina, Paulino Cardoso, defendeu hoje (5) que a educação político racial deve ser priorizada no ensino médio. Ele disse que as políticas afirmativas foram focadas por muito tempo no ensino superior.
“À medida que você entra no ensino médio, as classes vão clareando; poucos são os que terminam o 9º ano e conseguem ir para o ensino médio, ou não finalizam ou, então, param aí, porque não são estimulados a continuar os estudos. Ou chega na universidade sozinho”, disse.
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Segundo Paulino, esses alunos precisam ser acolhidos antes de ir para o ensino superior e querer entrar na universidade. “Para isso, precisamos conhecer esses meninos e meninas, temos que preparar sua autoestima e aquelas deficiências de formação que são cobradas nos vestibulares ou mesmo no Enem [Exame Nacional do Ensino Médio]”.
Para o professor, a política de cotas deve ser revista, no sentido de não excluir os jovens negros. “A forma com que esses processos seletivos são organizados nos excluem desde coisas simples, como a taxa de inscrição e os critérios para isenção ou não. Temos que discutir também que cota não tem que ser teto, mas ser piso. Hoje, os estudantes concorrem entre si nos programas e eles deveriam concorrer no geral, tirar as 80% das vagas para as melhores notas, e o restante da porcentagem tirar para estudantes que fizeram a opção pela cota. E aí teríamos um número maior de estudantes, inclusive”, disse.
Paulino participou hoje (5) da conferência “Diálogos e perspectivas sobre a questão racial no Brasil”, durante a 4ª Semana de Reflexões Sobre Negritude, Gênero e Raça (Sernegra), do Instituto Federal de Brasília, e o 2º Congresso Brasileiro de Pesquisadores Negros da Região Centro-Oeste (Copene CO). em Brasília.
A coordenadora de Educação em Diversidade da Secretaria de Educação do Distrito Federal, Renata Parreira, afirmou que as ações afirmativas devem ser trabalhados no ensino médio, mas defende que iniciar o processo desde o ensino infantil é fundamental, “para já influenciar um outro pensar em relação a questões raciais, da educação anti racista, do respeito às diferenças que está presente na escola, e esse processo acontece desde desde pequeno”.
Privilégios dos brancos
Para o professor Paulino Cardoso, a sociedade precisa discutir os privilégios dos brancos, porque, segundo ele, “o racismo não é dado de consciência, mas é uma estrutura de poder criado para sustentar o domínio europeu em todo o mundo”.
“Nós precisamos desmontar isso. As pessoas brancas precisam ter clareza da responsabilidade de ser branco e que, se ele sabe que o racismo existe, a desigualdade existe, não deve permitir que aconteça com os outros. Tudo muda no momento em que uma pessoa branca diz que não gostou dessa piada [racista], ou que viu o que o outro fez e que é errado, ou que se coloca a disposição para testemunhar a seu favor [da pessoa negra], de ter de pensar em um Brasil em que a raça não seja um parâmetro definidor de tudo”, argumentou Paulino.
Os encontros vão até domingo (8) com oficinas, mesas-redondas, exposições e apresentações artísticas. No encerramento, os participantes visitarão o Quilombo Mesquita, na Cidade Ocidental (GO), no entorno do Distrito Federal, para uma roda de conversa. A programação completa está disponível no site do evento.
Andréia Verdélio; Edição: Maria Claudia
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