Investigação sobre caso Maju descobre grupos organizados de ataques racistas

10 de dezembro, 2015

(Folha de S. Paulo, 10/12/2015) A investigação que localizou suspeitos de terem ofendido a jornalista Maju Coutinho rastreou quatro grupos virtuais que se organizam para praticar ataques racistas em redes sociais.

O promotor Christiano Jorge Santos, do Ministério Público de São Paulo, que coordenou a operação nacionalmente, mapeou as facções a partir de perfis no Facebook. Os grupos são formados na rede social, com membros de diferentes Estados, e competem entre si.

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As páginas disputam para ver a que consegue promover ações de maior impacto e com mais visibilidade. O caso de Maju, segundo as investigações, foi um dos considerados “bem-sucedidos”.

Em uma mensagem localizada pela Promotoria, um suspeito afirmava que uma das facções ficaria “famosa” no dia seguinte, com a “primeira aparição no programa da Fátima Bernardes”, na TV Globo. Não ficou claro a que caso específico a postagem se referia.

Os grupos rivais tentam também sabotar as ações um do outro, invadem perfis e provocam a derrubada de páginas concorrentes.

“Os suspeitos localizados hoje são os que se pode afirmar com mais certeza que participaram dos ataques a Maju. Temos dados praticamente conclusivos sobre eles”, diz o promotor, que usará o teor dos depoimentos e as informações dos computadores e celulares apreendidos para seguir na apuração.

A expectativa é entender o modo como os grupos se organizam e chegar aos líderes.

No início deste mês, a atriz Cris Vianna foi alvo de uma sequência de comentários racistas em uma rede social. Nesta semana, a também atriz Sheron Menezzes também foi atacada. No mês passado, um caso semelhante ocorreu com a atriz Taís Araújo. Todas são da Globo.

A apuração no caso Maju envolveu o acesso a informações protegidas de redes sociais e provedores de e-mail, com autorização da Justiça. Os registros foram cruzados com os de outros bancos de dados, como de órgãos oficiais. A Promotoria mantém sigilo sobre os caminhos da investigação e não divulga o nome das facções porque isso poderia prejudicar o trabalho em casos futuros.

TEMPO FECHADO

A Operação Tempo Fechado –que foi batizada em referência ao cargo de Maju, que apresenta a previsão do tempo do “Jornal Nacional”, da TV Globo– começou à 6h desta quinta (10) e foi executada por agentes do Ministério Público em cada Estado.

Foram cumpridos 25 mandados de busca e apreensão em oito Estados (São Paulo, Minas Gerais, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Goiás, Amazonas, Ceará e Pernambuco). Entre os 12 suspeitos, estão menores de idade. Alguns escreveram, do mesmo perfil, mais de 20 xingamentos. Os autores, em geral, são homens e jovens, segundo o promotor.

Os agressores podem ser denunciados à Justiça pelos crimes de racismo, injúria racial e organização criminosa.

Um adolescente de 15 anos de Americana (SP), ouvido em setembro, confessou a autoria de parte dos ataques a Maju. Ele disse que não é racista, “inclusive tem amigos negros na escola”, e no fim “pediu desculpas”, segundo o inquérito. A punição para ele ainda não foi decidida.

A investigação começou em julho, logo após os ataques à jornalista. A maioria dos suspeitos usava nomes e dados falsos no perfil do Facebook. “Mesmo assim, com a investigação, foi possível chegar aos reais autores”, diz o promotor.

Ele afirma que a operação serve de lição a quem acha que crimes cometidos pela internet ficam impunes. “Mostra que o anonimato na internet é uma ilusão.”

Acesse o PDF: Investigação sobre caso Maju descobre grupos organizados de ataques racistas (Folha de S. Paulo, 10/12/2015)

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