Por que 40% das mulheres assassinadas no Brasil são evangélicas?, por Karin Kepler Wondracek

Foto: Freepik

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27 de maio, 2025 Folha de S. Paulo Por Karin Kepler Wondracek

Certos ensinamentos apresentados como bíblicos, quando parciais, favorecem a violência contra a mulher

Como o último relatório do Fórum Brasileiro de Segurança Pública apontou que mais de 40% das mulheres brasileiras assassinadas são evangélicas, cabe perguntar: o que as igrejas estão ensinando a mulheres e homens que pode ter incrementado a violência conjugal?

Minha hipótese é de que certos ensinamentos apresentados como bíblicos, quando parciais, favorecem a violência contra a mulher.

A psicóloga americana Lenore Walker ficou conhecida por esquematizar o ciclo da violência doméstica em 3 fases: Na primeira acontecem agressões leves, e a mulher se submete para acalmar o parceiro. Ele sente sua agressividade reforçada pela submissão dela; e ela passa a acreditar que pode “controlar” seu parceiro com esse comportamento de sujeição.

Na segunda fase, a tensão aumenta, o agressor descarrega a violência anunciada anteriormente. A mulher, sentindo o perigo iminente, se retrai ou sai em busca de ajuda externa, com muita vergonha e culpa.

Na terceira fase, o agressor se mostra arrependido, e promete nunca mais praticar tais atos. Esse tempo de nova ‘lua de mel” faz a vítima esquecer dos maus tratos, e acreditar na mudança do agressor. Apaga para si mesma os sofrimentos anteriores, pois se sente pressionada pela sociedade ou pelas condições econômicas a manter a relação.

No entanto, essa bonança desemboca em novo ciclo de violência, na qual o agressor volta a agredi-la, desta vez descontroladamente, chegando por vezes ao feminicídio.

Como será que as igrejas reforçam, sem querer, este ciclo trágico?

Um dos ensinamentos mais propagados nas igrejas é de que a mulher se submeta ao marido, e que a submissão mudará o comportamento dele. No entanto, reforça a fantasia de que ela pode controlar seu parceiro pela sua submissão, como explicado na primeira fase da violência. E dá a ele a noção de que vale a pena ser agressivo para conseguir a sujeição dela.

No caso do homem, o ensino mais usual é sobre ele ser “o cabeça do lar”. Isso reforça a fantasia de que tem direitos sobre a mulher, como na primeira fase da violência.

Os leitores evangélicos poderão argumentar que este é o ensino “correto”. Porém não é, se excluir o mais importante: a liderança segundo Cristo. Esta é revolucionária e poucas vezes mencionada: o líder “é o que serve”, como Jesus explicitou no lava-pés (Jo 13.1-15).

O apóstolo Paulo escreve claramente que o marido deve amar a mulher como Cristo amou a igreja —no caso, padeceu por amor a ela! (Ef. 5.25-30) Infelizmente, o patriarcado ocultou essa parte essencial do ensino bíblico aos maridos.

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