Violência obstétrica pode ocorrer no parto, no pré-natal e em casos de aborto

12 de janeiro, 2022

Segundo médica, qualquer mulher está suscetível a sofrer esse tipo de violência, mas casos predominam entre as mais vulneráveis: pretas e pobres

(Rádio EBC | 12/01/2022 | Por Tarde Nacional – Amazônia)

Esta edição do Tarde Nacional – Amazônia teve a missão de ajudar mulheres a identificarem casos de violência obstétrica. A entrevistada foi Melania Amorim, médica ginecologista e obstetra,. Ela é professora doutora de ginecologia e obstetrícia da Universidade Federal de Campina Grande e professora da Pós-graduação de Saúde Integral do Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira.

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Segundo Melania, a violência obstétrica é toda ação ou omissão que cause dano ou sofrimento à mulher, ou que seja praticada sem seu consentimento, durante o pré-natal, no parto, no puerpério ou nos casos de aborto. E essa violência pode ser praticada tanto por médicos quanto por outros profissionais que atuam no ambiente obstétrico.

No pré-natal, fazer toque de rotina, não fornecer informações à grávida e não fazer procedimentos importantes, como medir pressão arterial, são atos que podem entrar para essa categoria de violência. Já sobre as violências durante o parto, a médica cita: negar acesso à analgesia, impedir a presença do acompanhante ou da doula, obrigar a fazer jejum e a repousar no leito, tratamento agressivo ou discriminatório, realização de cesariana sem consentimento, episiotomia sem consentimento, manobra de Kristeller, entre outras.

Manobra de Kristeller 

Ela explica que a manobra de Kristeller consiste em alguém empurrar com os punhos ou com o braço o fundo da barriga da mulher durante o parto.

Apesar de a manobra ser condenada pela Organização Mundial da Saúde e pelas diretrizes brasileiras sobre parto normal, ainda ocorre em 37% dos partos vaginais no Brasil, segundo a médica, evidenciando “a banalização da violência obstétrica”.

Episiotomia

A episiotomia é um corte que se faz no períneo e na vagina, teoricamente pra facilitar o parto, mas que, segundo Melania, não tem nenhuma evidência científica que corrobore com a necessidade.

 

“Mas, o pior de tudo é que, muitas vezes, é realizada sem consentimento e várias vezes até sem anestesia. E não se concebe, em nenhuma outra situação da medicina. Você já imaginou alguém pegar uma tesoura e cortar a sua perna, ou sua coxa, sem anestesia, e suturar sem anestesia, e sem pedir o consentimento? Então tem um viés misógino, machista, patriarcal… Vê o corpo da mulher como defeituoso. E sofrem mais as mais vulneráveis, as pretas, pardas, pobres, periféricas, as LGBT, as pessoas com deficiência, porque o modelo também é elitista, classista, racista, lgbtfóbico, capacitista”, afirmou.

 

Aborto

Já no processo de aborto ou perda fetal, ela diz que muitas mulheres acabam sendo maltratadas por equipes que as pressionam para que elas falem se aquele aborto foi induzido, em clara violência psicológica. Ou ainda, essas mulheres são colocadas junto a outras que acabaram de ter bebês, o que configura uma violência obstétrica institucional (quando a instituição não oferece um alojamento à parte para quem perdeu o filho.

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