Literatura traz evidências de que mulheres sofrem mais intimidação e assédio do que os políticos homens
O caso anedótico do embate entre o senador Plínio Valério e a ministra Marina Silva, durante a sessão da Comissão de Infraestrutura do Senado no último dia 27, nos lembra que a violência contra a mulher na política é algo enraizado e que precisa ser combatido. Em um momento, ele afirma: “Ministra, que bom reencontrá-la. E ao olhar para a senhora, eu estou vendo uma ministra. Eu não estou falando com a mulher. Eu estou falando com a ministra.” Então ela responde: “Eu sou as duas coisas.” Logo depois, ele retruca: “Porque a mulher merece respeito, a ministra, não.” Não podemos esquecer que ele já havia declarado anteriormente que tinha vontade de enforcá-la. Que tipo de afirmações são essas? O que leva um senador da República a proferir tamanhas barbaridades contra uma colega de profissão?
As mulheres foram consideradas incapazes ou cidadãs de segunda classe por muito tempo, e essa exclusão é sentida até hoje. O direito ao voto chegou tarde. Porém, não é só a demora na conquista dos direitos que prejudica a maior participação das mulheres na política. A literatura traz evidências de que as mulheres sofrem mais intimidação e assédio do que os políticos homens, e essas atitudes afetam a representação feminina.
Casos de intimidação e assédio acontecem não só no Brasil, mas em diversos países. O estudo de 2024 de Sandra Hakansson sobre a Suécia mostra que, mesmo em um país considerado menos sexista, os custos da violência contra políticas persistem. Não só a ambição política das mulheres pode ser afetada por esse comportamento, mas também o fato de que homens e mulheres são avaliados de forma distinta, dados os padrões existentes. Esse comportamento não só reduz as chances de recrutamento efetivo, mas significa menor apoio real para as eleições e menor visibilidade. Ademais, uma vez no cargo, espera-se que as políticas sejam respeitadas por suas ideias. O que se observa é que as mulheres têm menor visibilidade, menos apoio a seus projetos e são mais interrompidas e sujeitas a comentários pessoais do que os homens.
No Brasil, um estudo recentemente publicado pela professora Paula Pereda (FEA/USP) e pelos ex-alunos da Universidade de São Paulo Fernanda Peron e Felipe Bailez traz evidências de que, infelizmente, o caso da ministra não é isolado. O estudo baseado na monografia de Fernanda tem o objetivo de entender se há diferenças na forma como as mulheres políticas são retratadas em relação aos seus colegas homens. Para investigar o viés de gênero em discursos políticos online, os autores analisaram mais de 400 mil mensagens de grupos públicos de WhatsApp. Os resultados são impressionantes. As mulheres, apesar de representarem 24% dos políticos no conjunto de dados, são mencionadas em somente 18% das mensagens. Outra diferença é que as mensagens que retratam as políticas têm maior probabilidade de destacar seus atributos pessoais (aparência física, papéis familiares ou sexualidade) do que aquelas sobre políticos homens.