Brasil tem chance histórica de fazer justiça no caso Marielle, por Marinete Silva, Luyara Franco, Monica Benicio, Antônio Silva e Agatha Arnaus

28 de outubro, 2024 O Globo Por Marinete Silva, Luyara Franco, Monica Benicio, Antônio Silva e Agatha Arnaus

Júri dos acusados do assassinato de vereadora e Anderson Gomes é a oportunidade de mostrar ao mundo que repudiamos esse crime brutal

Seis anos e sete meses foi o tempo que passou para chegarmos aqui, após muitos anos de dor, luto e luta. Em 14 de março de 2018 nos tiraram Marielle e Anderson num crime que, segundo as investigações, teve participação de agentes e ex-agentes do Estado e que escancarou as profundas rachaduras existentes em nossa democracia. O júri dos acusados de ser os executores do assassinato de Marielle e Anderson acontecerá na próxima quarta-feira, primeiro passo para começarmos a alcançar justiça.

É a oportunidade que a sociedade brasileira tem para mostrar ao mundo repúdio a esse crime brutal e não aceitar que nossa História seja marcada pela impunidade num caso emblemático de violência contra defensores de direitos humanos e de violência política de gênero e raça. Nos tiraram uma mulher corajosa, cheia de garra, determinação, nossa filha, mãe e esposa. Nos tiraram um homem honesto, trabalhador, parceiro de vida e pai de família. Duas pessoas cheias de vida, sonhos e muito amadas por todos a sua volta. Nesse período, nossas famílias e cada uma de nossas vidas foram atravessadas por uma perda inestimável e uma dor indescritível, pois perder Marielle e Anderson foi seguramente a dor mais avassaladora que já vivenciamos.

Desde aquele trágico dia, temos enfrentado essa jornada com coragem, resistindo com indignação e carregando um vazio profundo de saudade. Foi mais de meia década transformando luto em luta, dor em força e esperança de que a justiça um dia chegaria. Sabemos que, em nosso país, a justiça não chega para todas as pessoas, sobretudo as que vivem nas favelas e periferias, negras, trabalhadoras, LGBTQIAPN+, que lutam contra as injustiças e desigualdades. A impunidade e naturalização da violência contra mães, mulheres negras e nossas famílias é regra num país marcado pela exclusão.

A luta por justiça por Marielle e Anderson se reconhece na dor do luto e na resistência da luta de tantos outros casos de violência política de gênero e raça, de crimes contra a vida de defensores de direitos humanos e de mortes produzidas pelo Estado. Nesse contexto, a luta por justiça que temos travado desde aquele 14 de março significa também a luta por um país melhor e por um futuro possível para todas as pessoas.

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