Não bastasse a alta incidência de casos de estupro e violência sexual, muitas vítimas também escutam frases ofensivas que, de certa forma, menosprezam o trauma pelo qual passaram. A Universa lista sete frases que nunca devem ser ditas às vítimas de violência sexual, e como elas podem ser substituídas:
(Universa, 07/05/2019 – acesse no site de origem)
“Mas o que você estava fazendo na rua a essa hora e com essa roupa?”
Por que é ruim: Considerando que a maioria dos estupros acontece dentro de casa, culpar uma mulher por ter sido estuprada à noite, quando estava na rua, e com determinada roupa nem tem relação com os casos mais frequentes –e mesmo que tivesse. O culpado não é o horário, a roupa ou a situação em que a mulher foi violentada, mas o estuprador que cometeu o crime. Quando alguém te conta que sofreu um estupro, o mais importante é saber o máximo de informações possível sobre o criminoso, não sobre o que a vítima estava fazendo ou vestindo.
Você pode substituir por: “Não é possível que a gente não tenha segurança para andar nas ruas. Você não atraiu o estuprador por causa do local onde estava ou por suas roupas”.
“Você tem certeza de que foi estupro mesmo?”
Por que é ruim: É como se você estivesse duvidando da capacidade da mulher de diferenciar violência sexual de sexo consensual. Dizer isso a uma vítima faz com que ela se sinta culpada pelo que aconteceu com ela.
Você pode substituir por: “A culpa não foi sua, estou aqui para ouvir você”.
“Mas ele era seu namorado/marido, não era?”
Por que é ruim: Não é porque existe uma relação afetiva entre a mulher e o abusador que todo ato sexual entre eles é necessariamente consensual. O nome disso é estupro marital, e é crime.
Você pode substituir por: “Você não está sozinha; se quiser posso acompanhar você até a delegacia para prestar queixa”.
“Deus só coloca sobre você o peso que você é capaz de carregar”
Por que é ruim: Insinuar que uma mulher foi violentada como “provação divina” não só menospreza o estupro sofrido, mas dá a impressão de que isso pode ser algo normal para algumas mulheres e que elas conseguem passar pelo trauma “naturalmente” –o que não é verdade.
Você pode substituir por: “Ninguém merece passar por isso e você não precisa suportar o peso desse trauma sozinha”.
“Melhor não dizer nada, ninguém vai acreditar mesmo”
Por que é ruim: A frase desencoraja as vítimas a denunciarem e faz com que elas percam forças para fazer algo a respeito, o que causa subnotificação do crime: estima-se que só 10% dos estupros sejam efetivamente denunciados.
Você pode substituir por: “Se precisar de ajuda com a denúncia, eu posso procurar como fazê-la e acompanhar você”.
“Mas você tinha bebido muito. Será que não foi consensual?”
Por que é ruim: O álcool mexe com nossa percepção de consentimento e a capacidade de engatar uma relação sexual e dizer “sim” ou “não”, fica comprometida. De acordo com o Código Penal brasileiro, é considerado estupro de vulnerável realizar atos sexuais com “alguém que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência”.
Você pode substituir por: “Quem bebe não tem como consentir plenamente. Ele se aproveitou do seu estado e o errado é ele”.
“Agora, você é mais forte por causa disso”
Por que é ruim: Nenhuma pessoa precisa passar por uma violência sexual para se tornar mais forte. A frase romantiza o estupro e ignora que este é um crime que pode traumatizar a vítima e trazer consequências graves por muitos anos, mesmo com tratamento.
Você pode substituir por: “Você tem todo o direito de sofrer pelo que aconteceu, foi uma violência muito grande e não é fácil superar. Como posse ajudar você?”.
Jacqueline Elise