Rotina de violência sexual e gravidez precoce no Marajó é alimentada por desassistência nos rios

Foto: Elza Fiuza/Agência Brasil

22 de abril, 2024 Folha de S. Paulo Por Vinicius Sassine e Lalo de Almeida

Folha vai à porção ocidental do arquipélago e constata a relação entre violações de direitos e ausência do Estado em comunidades mais isoladas da amazônia atlântica

Uma rotina silenciosa, com ares de normalidade para parte das pessoas que a vivenciam, preenche os dias e os espaços na porção ocidental do arquipélago do Marajó (Pará), na amazônia atlântica brasileira.

No Hospital Regional do Marajó, em Breves, a maior cidade do arquipélago, uma criança de 12 anos, grávida, é internada para o parto. Ela só deixou sua comunidade ribeirinha, que fica a horas e horas em um barco, quando a gravidez completou nove meses. O pai seria um primo, de 13 anos.

A poucos quilômetros do hospital, num bairro com casas de madeira suspensas em uma área de igarapé, duas primas de 14 anos serão mães em semanas. Uma será mãe solo. A outra deixou uma comunidade ribeirinha acompanhada do companheiro, um homem de 20 anos que obtém renda da coleta de açaí e da pesca tradicional de camarão.

Rios adentro, longe da área urbana, uma mãe se afeiçoa aos poucos ao filho de colo, depois de meses de resistência. Ela acaba de completar 18 anos. No ano passado, foi estuprada pelo próprio pai e ficou grávida, conforme a denúncia feita. O agressor fugiu. Na casa simples de madeira, na margem do rio, há alívio com a fuga.

Em Melgaço, a uma hora de lancha de Breves, um casal —uma menina de 14 anos e um homem de 25— procura o posto de saúde da cidade, conhecida por ter o pior IDH (índice de desenvolvimento humano) do país. Grávida, ela procura ajuda médica, com a mãe e o companheiro, para o início de um pré-natal.

Numa sala ao lado, mulheres que recebem Bolsa Família levam seus filhos para serem pesados. As famílias gastaram horas em embarcações até ali. Uma mulher tem 27 anos, oito filhos e está grávida. Outra mulher, aos 39, é mãe de 13. O mais velho tem 25 anos. O mais novinho, sete meses.

Esses recortes do cotidiano em espaços públicos no Marajó compõem uma realidade complexa, em que crianças e adolescentes são submetidas a violência sexual, ora com consentimento de familiares, em que se permitem os relacionamentos com homens adultos, ora por meio do emprego mais literal da violência.

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