Instituto Patrícia Galvão prepara ação de diálogo com a mídia sobre a violência contra as mulheres

18 de agosto, 2014

(Agência Patrícia Galvão, 18/08/2014) Com apoio do Fundo Elas e do Instituto Avon, o Patrícia Galvão quer promover debates entre comunicadores e especialistas e subsidiar o trabalho da mídia com dados e fontes sobre as violações aos direitos das mulheres

A violência de gênero é o assunto que mais atrai a atenção da imprensa no país dentre os temas da agenda das mulheres. No entanto, a forma como o problema é abordado mostra a necessidade de aprofundamento, que inclui contextualização e entendimento das desigualdades nas relações de gênero. Tendo em vista que a mídia tem papel crucial na implementação e efetivação de políticas públicas, o Instituto Patrícia Galvão inscreveu o projeto Por uma cobertura jornalística contextualizada, crítica e aprofundada sobre violência contra as mulheres e a aplicação da Lei Maria da Penha na 19ª edição do Fundo Fale Sem Medo. A proposta foi uma das 31 selecionadas para receber investimento do fundo, uma iniciativa do Fundo Elas em parceria com o Instituto Avon.

O objetivo do Instituto Patrícia Galvão é contribuir para o aprofundamento do debate sobre a violência contra as mulheres e a aplicação da Lei Maria da Penha nos meios de comunicação tradicionais e nas redes sociais, por meio da sistematização e disponibilização de dados, informações e análises estratégicas, além da sensibilização de profissionais de comunicação sobre a realidade e complexidade do problema.

A proposta é que o debate com a imprensa desperte um sentido de urgência do compromisso da mídia para exercer cada vez mais seu papel de pressionar e fiscalizar as ações do Estado na implementação da Lei Maria da Penha e, ao mesmo tempo, assumir no debate público uma posição editorial de não tolerância com a violência contra as mulheres.

Dossiê multimídia sobre violência contra as mulheres

O projeto a ser desenvolvido prevê a produção de um dossiê multimídia com dados oficiais atualizados, pesquisas de opinião e estatísticas demográficas comentadas por especialistas. Também será disponibilizada uma lista de contatos de operadores do Direito, pesquisadores, delegadas de DEAMs, gestores e ativistas dos movimentos sociais de mulheres das diversas regiões do país, a fim de facilitar a busca de fontes qualificadas para a produção de reportagens sobre o tema.

Diálogo entre jornalistas, especialistas, pesquisadoras, gestoras e ativistas feministas

A ação também inclui uma série de painéis temáticos voltados ao diálogo com jornalistas e comunicadores em geral. Nesses eventos, especialistas, gestores, pesquisadores e operadores do Direito debaterão com profissionais da comunicação a importância da perspectiva de gênero e de direitos humanos na cobertura do tema da violência contra as mulheres.

As atividades estão em fase de planejamento. A execução acontecerá entre fevereiro e novembro de 2015. Para a editora da Agência de Notícias Patrícia Galvão, Marisa Sanematsu, a experiência do Instituto em promover diálogos com jornalistas na perspectiva de defesa dos direitos das mulheres ao longo dos últimos anos coloca boas perspectivas para o desenvolvimento do projeto. “Desde sua criação, o Instituto Patrícia Galvão vem se dedicando ao tema da violência de gênero sob a perspectiva da comunicação. Para isso, tem realizado estudos, pesquisas de opinião e eventos que mostram que a mídia é sensível ao tema mas sua abordagem ainda é muito superficial. Por isso é preciso subsidiar esse trabalho com dados e fontes qualificadas para que os meios de comunicação possam de fato contribuir não só para dar visibilidade à gravidade da violência contra as mulheres, mas também para mostrar sua complexidade e as saídas que existem para a superação do problema”, afirma Marisa, que ressalta também que a questão não é apenas uma responsabilidade da Segurança Pública e da Justiça, mas de toda a sociedade, e os meios de comunicação podem e têm o dever de contribuir para o enfrentamento dessa grave forma de violência, que no Brasil já atingiu proporção de uma epidemia.

O papel social da mídia no enfrentamento à violência de gênero

A iniciativa surgiu da avaliação do Instituto sobre a cobertura jornalística de temas relacionados à agenda de direitos das mulheres. Há dez anos o Patrícia Galvão – Mídia e Direitos desenvolve um trabalho de monitoramento de mídia e esse acompanhamento mostrou que, embora destacado, o tratamento da violência contra as mulheres ainda é descontextualizado e superficial.

Saiba mais: Violência contra a mulher: estudo revela predominância de viés policialesco na cobertura noticiosa do tema

“Há uma excessiva concentração da cobertura sobre violência de gênero em reportagens de caráter policial, que carecem de contextualização e problematização. As matérias em geral destacam detalhes sobre os resultados físicos da violência e as circunstâncias em que foi cometida sem agregar análises sobre as relações desiguais de poder entre homens e mulheres”, aponta a diretora executiva do Instituto, Jacira Melo, que destaca também a pouca atenção do jornalismo à legislação relacionada aos direitos das mulheres. “Verifica-se um baixo investimento em entrevistas com especialistas – gestoras de serviços de atenção a mulheres, ativistas feministas, pesquisadoras e operadores dos sistemas de Segurança Pública e Justiça. E na maioria absoluta das reportagens e matérias está ausente a necessária crítica às políticas públicas de segurança e de assistência psicossocial e jurídica às vítimas. Não se discutem as responsabilidades dos governos locais pela escassez de serviços e nem se cobra o apoio de infraestrutura e recursos pelos quais os governos estaduais e federal são legalmente responsáveis”.

Outro problema verificado pelo Instituto Patrícia Galvão na abordagem midiática é o desconhecimento em relação aos dispositivos legais que poderiam assegurar às mulheres o pleno acesso à Justiça, especialmente sobre a Lei Maria na Penha. “Diversas pesquisas já mostraram que a maioria absoluta – entre 92% a 99% – da população declara conhecer a Lei Maria da Penha, mas não o seu conteúdo. É preciso divulgar mais os instrumentos da Lei que garantem a segurança e os direitos das mulheres, como as medidas protetivas de urgência, a estabilidade no emprego e a assistência jurídica e psicossocial”, afirma Marisa Sanematsu.

Parceria

O Fundo de Investimento Social Elas é uma iniciativa de empresas e organizações que financia ações para o protagonismo de mulheres. E pela primeira vez, em conjunto com o Fundo Fale Sem Medo e apoio da ONU Mulheres e da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República, selecionou projetos de grupos e organizações da sociedade civil que trabalham para o enfrentamento da violência doméstica contra a mulher.

O Fale Sem Medo é uma iniciativa do Instituto Avon que funciona com aportes da empresa e de parte dos valores dos produtos adquiridos pelas consumidoras e consumidores da marca, para financiamento de iniciativas de combate à violência contra as mulheres. Neste ano, o 19º edital destinará R$ 3,1 milhões de reais para projetos diversos.

O Instituto Patrícia Galvão

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Seminário ‘Mídia e Mulheres na Política’, realizado pelo Instituto Patrícia Galvão em 2010. À mesa, Eliane Cantanhêde (Folha de S.Paulo), Claudia Belfort (Jornal da Tarde), Lurdinha Rodrigues (Instituto Patrícia Galvão), Luiz Rila (O Estado de S.Paulo) e Céli Pinto (UFRGS).

Organização da sociedade civil fundada em 2001 com a missão de contribuir para a qualificação da cobertura jornalística sobre violações dos direitos das mulheres brasileiras, o Instituto Patrícia Galvão atua para influenciar o debate público a fim de demandar respostas do Estado e mudanças na sociedade e na própria mídia. Desde 2009 o Instituto mantém a Agência de Notícias Patrícia Galvão, que divulga eletronicamente pesquisas, fontes e informações, além de compilar material produzido pelos meios de comunicação do país sobre temas críticos para as mulheres.

O Instituto também é a organização promotora de vários debates com jornalistas e especialistas sobre temas da agenda das mulheres, entre eles o ciclo de seminários ‘A Mulher e a Mídia’, que em oito edições reuniu nomes como Cristiana Lôbo, Luiza Erundina, Eliane Cantanhêde, Marta Suplicy, Claudia Belfort, Laura Capriglione, Taís Ladeira, Rodrigo Vianna, Teresa Cruvinel, José Eustáquio Diniz Alves, Gustavo Venturi, Fátima Jordão, Renato Meirelles, Denise Viola, Dênnis Oliveira, Ivana Bentes, Edson Lopes Cardoso, Sérgio Amadeu e outros.

Jornalistas e comunicadores em geral interessados em receber informações e acompanhar o desenvolvimento do projeto podem se cadastrar diretamente na página da Agência ou enviar e-mail para [email protected].

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