Madeline Di Nonno: ‘O Brasil tem uma das mais altas taxas de presença feminina em produções cinematográficas’

12 de abril, 2016

(O Globo, 12/04/2016) Executiva-chefe do Instituto Davis Geena sobre Gênero em Mídia, americana veio ao Rio participar de evento da Firjan sobre questões de gênero na mídia

“Sou formada em inglês pela Universidade de Boston. Descobri cedo a paixão pelo entretenimento e tenho mais de 30 anos de experiência na indústria de entretenimento e mídia digital. Procurava modelos de mulheres bem-sucedidas, mas não as encontrava na mídia. Buscava em obituários histórias de mulheres inspiradoras. Hoje, uni as duas coisas.”

Conte algo que não sei.

Quando uma mulher está no comando de uma produção cinematográfica, seja como roteirista ou como diretora, há um aumento de cerca de 7,5% de mulheres trabalhando por trás das câmeras. Por isso, se metade da Academia de cinema fosse formada por mulheres, nós não teríamos o tipo de Oscar que temos visto ultimamente. E não apenas teríamos mais mulheres, como também mais diversidade étnica.

Seu trabalho, porém, é focado na programação infantil. Por que isso?

As poucas personagens femininas que existem na indústria de entretenimento, na maioria das vezes, não têm carreiras, são altamente sexualizadas. Normalmente, o único propósito delas é servir de romance ou apenas serem bonitas. Se as crianças crescem com esse tipo de visão irão reproduzir isso.

De que maneira a representação feminina na TV pode influenciar a percepção das crianças sobre a sua realidade?

Meninas com 6 anos estão se autossexualizando. Elas passam a se enxergar através das lentes masculinas com as quais os programas infantis são produzidos. Nos EUA, crianças com menos de 8 anos estão vendo de sete a dez horas diárias de diferentes tipos de mídia. Mas elas não têm filtros — não têm habilidades críticas para assistir a um programa e se perguntar: “Eu não me reconheço aqui. Por quê?” Se os filmes mostrarem mulheres com carreiras, cientistas, engenheiras, astronautas ou jogadoras de basebol, e se meninos e meninas crescerem vendo isso, será normal que, quando adultos, entrem em uma sala em que metade das pessoas seja de mulheres, ou em que uma CEO e os líderes também sejam mulheres, porque cresceram vendo isso.

Qual a idade em que devemos começar a ter essa preocupação?

Quando muito novinhas, as crianças não entendem a diferença de gêneros e, até os 5 anos, ela não ligam para isso. É a partir dos 6 anos que se torna fundamental ajudá-las a adquirir habilidades críticas de pensamento.

E como fazer isso?

É preciso assistir, na medida do possível, aos mesmos programas que seus filhos. Se for um filme de esportes que não tenha mulheres, introduza a ideia: poderia ter uma menina ali? Ela poderia praticar o esporte? E discuta com eles, para que aprendam a questionar.

Por que começar com a TV e o cinema?

Porque só a mídia pode mudar da noite para o dia — porque é ficção. Enquanto outras categorias de negócio, a política, a academia, o Direito podem levar anos para alcançar igualdade de gêneros, a TV e o cinema podem mudar essa realidade com um piscar de olhos.

Há exemplos disso?

Ao ouvir sobre o problema de representação feminina, o diretor de “O Pequeno Príncipe”, Mark Osborne, não só introduziu uma personagem, que acabou se tornando a principal, como acrescentou mulheres ao elenco. Isso é sucesso.

A História brasileira é marcada por uma cultura patriarcal e machista. Nossos filmes refletem essa realidade?

Pelo contrário. O Brasil tem, na verdade, uma das mais altas taxas de presença feminina em suas produções cinematográficas — 37% —, quando comparado aos dez países com os cinemas de maior relevância mundial. Além disso, vocês têm ainda uma das mais altas taxas de escritoras, 40%, e de produtoras, 47%.

Acesse o PDF: Madeline Di Nonno: ‘O Brasil tem uma das mais altas taxas de presença feminina em produções cinematográficas’ (O Globo, 12/04/2016)

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