Ambiente político ainda é muito hostil para mulheres. É preciso baixar o limiar de tolerância a brincadeiras que ensejem violência
(Poder 360 | 04/10/2021 | Por Izabela Patriota)
O Brasil de 2021 reforçou uma percepção antiga: a violência política contra as mulheres não tem ideologia.
Há algumas semanas, ressurgiu o vídeo de 2018 do líder de um dos maiores movimentos políticos do Brasil, o Movimento Brasil Livre (MBL), fazendo piada sobre estuprar uma colega no meio de uma multidão. Não se tratava de uma conversa privada entre Renan Santos e a colega, a quem disse que estupraria. O momento era de confraternização de membros do MBL, cujos participantes, inclusive, vestiam a camisa do movimento.
Nada justifica o ato, nem mesmo a conivência com a situação. Um movimento sério teria, no mínimo, suspendido a liderança de Renan à época dos fatos. Os movimentos políticos, por si só, já são carentes de mulheres. No meio liberal (no qual o MBL alega se encaixar), o hiato é ainda maior.
Não é nada convidativo saber que, sob o pretexto da influência de bebidas alcóolicas, brincadeiras, até mesmo sobre estupro, são válidas e depois remediadas com um simples pedido de desculpas. Aliás, para efeitos jurídicos, apenas a embriaguez involuntária completa afasta a culpabilidade. Aparentemente, não foi o caso da confraternização do MBL, onde todos estavam voluntariamente confraternizando e ingerindo bebidas alcóolicas.