Segundo dossiê da Antra, foram 140 mortes de travestis e transexuais em 2021; maioria é preta e do gênero feminino
(Estadão | 29/01/2022 | Por João Ker)
O Brasil se manteve em 2021 como o país que mais mata pessoas transgêneras em todo o mundo, uma liderança mantida desde que o ranking começou a ser formulado em 2008. Só no último ano, foram 140 assassinatos de travestis e transexuais mapeados pelo dossiê da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), divulgado na sexta, 28, véspera do Dia da Visibilidade Trans. Mas esse total esbarra em subnotificação dos casos, falta de uma coordenação a nível federal do levantamento e desrespeito à identidade de gênero das vítimas, suscetíveis a sofrerem uma “segunda morte” nos registros de óbito.
Apesar de os 140 homicídios localizados pela Antra representarem queda em relação ao ano anterior, ainda estão acima da média total desde 2008, segundo a qual 123,8 travestis e transexuais são mortas anualmente no Brasil. A maioria das vítimas segue o mesmo padrão de anos anteriores: é preta (81%), de identidade feminina (96%), foi atacada em espaços públicos (77,5%) e tem até 35 anos (81%), expectativa de vida média dessa população no País. “De forma alguma a violência transfóbica diminuiu. Ainda está acima da média, que já é um índice altíssimo em comparação com outros países do ranking mundial”, diz Bruna Benevides, articuladora política da Antra e autora do dossiê.
Adolescente morta
No ano passado, o Brasil assumiu também a liderança mundial de idade mínima para esses assassinatos, após a adolescente Keron Ravache, de 13 anos, ter sido morta a socos, pauladas e facadas em Camocim, no interior do Ceará. Ela é a vítima mais jovem da transfobia que se tem registro não só por aqui, mas entre os 31 outros países com casos relatados pela ONG Transgender Europe (TGEU).