(Veja| 12/05/2022 | Por Sofia Cerqueira e Jana Sampaio)
Há quase cinquenta anos, a Suprema Corte dos Estados Unidos, em uma decisão muito avançada para a época, deliberou que a Constituição americana garantisse às mulheres o direito de optar por interromper a gravidez. O veredicto histórico reverberou em todo o mundo, ao legalizar o aborto e pôr na vanguarda dos direitos reprodutivos a maior potência do Ocidente. Agora, o estrondo se repete, na direção contrária. O vazamento de um parecer preliminar indica que a mesma Corte, novamente debruçada sobre o assunto, reverterá a célebre Roe x Wade, identificação do processo encerrado em 1973 que autorizou a texana Norma McCorvey, citada ali com o nome genérico de “Jane Roe”, a abortar (tarde demais, aliás — a menina já havia nascido). Prevê-se que o retrocesso tenha reflexo imediato em pelo menos 26 estados prontos para adotar leis que restringem ou proíbem o procedimento.
Além das fronteiras, a marcha a ré dos Estados Unidos, caixa de ressonância planetária, pode alimentar a pregação que demoniza o aborto em redutos conservadores como o Brasil de Jair Bolsonaro, no qual um número recorde de projetos restritivos tramita no Congresso. “Estamos diante da maior ofensiva dos últimos tempos, nunca vimos os direitos das mulheres tão ameaçados”, diz a socióloga Masra Abreu, do Centro Feminista de Estudos e Assessoria, que monitora a atuação parlamentar.