(Jornal da USP| 27/05/2022 | Por Júlio Bernardes)
No Amazonas, mulheres indígenas da cidade de São Gabriel da Cachoeira se organizaram como resposta à violência, uma mobilização que se estendeu ao enfrentamento da pandemia de coronavírus a partir de 2020. Nesse momento, começou a campanha Rio Negro, Nós Cuidamos!!!, que arrecada e distribui alimentos, máscaras, produtos de higiene, combustível, ferramentas agrícolas e de pesca para comunidades indígenas nas margens do Rio Negro, de forma a evitar que se desloquem para a cidade e contraiam a doença. Essa e outras ações das mulheres de São Gabriel são relatadas em uma pesquisa da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, que analisa três casos de feminicídio de mulheres indígenas e a resistência presente na busca de formas de prevenir a violência doméstica, criminal e o assédio.
“Na pesquisa, eu analiso as formas práticas que se consolidam em um contexto crítico de violências e ameaças a mulheres indígenas na cidade de São Gabriel da Cachoeira, e como que essas mulheres respondem, atravessam e se constituem nesse contexto”, diz a autora do trabalho, Dulce Meire Mendes Morais, assessora técnica em Gênero do Programa Rio Negro do Instituto Socioambiental (ISA). “Por meio da análise dos documentos oficiais produzidos sobre os casos de feminicídio e o acompanhamento das mobilizações na cidade, foi possível pensar e alinhavar a pesquisa.”
O estudo De documentos, cactos e vírus: violência sexual, mulheres indígenas e Estado em São Gabriel da Cachoeira foi realizado na cidade de São Gabriel da Cachoeira, localizada na região do Alto Rio Negro, no noroeste amazônico brasileiro, e abrangeu as questões de violência doméstica, criminal (feminicídio) e assédio.