Camila Parodi compartilha a trajetória do portal argentino Marcha e sua experiência no jornalismo feminista a partir dos movimentos sociais
Eu venho do portal Marcha, um meio de comunicação popular. Surgimos há mais de 11 anos. Nosso processo vai costurando um pouco do que fomos construindo e que chamamos de “jornalismo coletivo”. Não viemos de um meio hegemônico ou de uma empresa de comunicação, viemos dos movimentos sociais.
Marcha surge da Frente Popular Darío Santillán, que foi construída após o assassinato de dois líderes políticos – dois piqueteiros, como dizemos na Argentina– que, em 2002, estavam bloqueando as vias de acesso à cidade. O movimento de desempregados vinha carregando o peso de mais de 12 anos de políticas neoliberais e fazendo piquetes, bloqueando estradas, queimando pneus e impossibilitando o acesso às grandes cidades que delimitam e determinam o poder e as decisões políticas. Nesse contexto, a polícia assassinou dois militantes populares: Darío Santillán e Maximiliano Kosteki.
Assim surgiu o movimento que leva o nome de Darío e um pouco do que é o Marcha, que naquele momento era a comunicação da Frente. Nesse processo, em diálogo com companheiras e conhecendo outras experiências, compreendemos a importância de ter um meio de comunicação autônomo, sem deixar de ter uma posição ou de ser político.
Aprendizados feministas
Naquele momento, o coletivo editorial do Marcha estava formado por duas seções, nacional e internacional, em uma tentativa de imitar os grandes meios e imprimir uma perspectiva popular ao que eles diziam. Começamos uma seção chamada “Policial”, por exemplo, e depois dissemos “não, não é isso que a gente quer”. Queremos falar de criminalização dos protestos e da juventude, e percebemos que não poderíamos de jeito nenhum usar a mesma categoria dos meios hegemônicos, que marca o que nos diferencia.