Considerado essencial pela OMS, o Cytotec, ou misoprostol, teve suas propriedades abortivas descobertas por brasileiras nos anos 1980, mas há 24 anos o país proíbe a compra e venda do medicamento sob duras penas. Sua disponibilização poderia reduzir as mortes por aborto inseguro e baratear o acesso ao procedimento
“Não teria passado por metade do que passei. Me sentiria mais segura, até se precisasse ir ao médico.” É o que Elaine*, 25 anos, responde ao ser perguntada sobre como seria fazer um aborto se o Cytotec, remédio que pode induzi-lo, fosse disponibilizado nas farmácias. Esse foi o método ao qual ela própria recorreu para conseguir interromper uma gravidez indesejada. Sem apoio do sistema de saúde e minada pelos preços exorbitantes das clínicas clandestinas, recorreu ao tráfico para ter acesso às pílulas abortivas
Comprou seis comprimidos por R$ 1.500 tirados das economias por meio de um contato que recebeu de uma amiga. “Dor de barriga” era o código que indicava à vendedora o que Elaine precisava. Todo o processo, cheio de códigos, incertezas e o medo constante de ser enganada, causava apreensão. “Achei que não daria certo e que seria presa. Me senti desamparada”, lembra.
A mesma pessoa que fez a venda enviou a Elaine um passo a passo de como administrar o medicamento e, pelo WhatsApp, auxiliou o procedimento à distância. Ela também contou com a ajuda de um casal de amigos, que ofereceu a casa para que ela e o marido fizessem tudo sem a família desconfiar.