Casos não foram investigados pela Funai, nem por outros órgãos responsáveis pela proteção de crianças e adolescentes; servidores apontam dificuldades para atuar em aldeias Jamamadi por causa de atuação de missionário religioso
Pelo menos três meninas indígenas de 9 a 12 anos da etnia Jamamadi que vivem em Lábrea, no sul do Amazonas, foram diagnosticadas entre 2019 e 2021 com o vírus HPV, um indício de que as crianças podem ter sofrido violência sexual.
Os casos foram reportados para a coordenação regional da Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas), então sob comando do governo de Jair Bolsonaro (PL). No entanto, as suspeitas não foram investigadas, nem as crianças receberam o devido tratamento.
O papilomavírus humano (HPV) é sexualmente transmissível e altamente contagioso. Nas mulheres, é o principal causador do câncer de colo de útero. Em crianças maiores, o contato sexual é a forma mais provável de contaminação.
No caso das três meninas Jamamadi, todas apresentaram lesões dentro da boca compatíveis com infecção por HPV, segundo laudos médicos e documentos obtidos por O Joio e O Trigo e Repórter Brasil.
Em uma delas, havia também outros sinais indicativos de violência sexual. “Foi constatada secreção transvaginal que caracteriza outra DST (Doença Sexualmente Transmissível)”, indica laudo de 2019, assinado por médico da UBS de Lábrea, a respeito de uma menina Jamamadi de 11 anos.